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Falta de incentivo

Sem apoio formal, atletas de Londrina 'lutam' para disputar torneio de kickboxing

Bruno Souza e Luís Fernando Wiltemburg - estagiário e repórter do Portal Bonde
02 mai 2022 às 17:15
- Divulgação/ Servir Sempre
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O Campeonato Paranaense de kickboxing, promovido em Corbélia, na Região Metropolitana de Cascavel, no oeste paranaense, atraiu mais de 300 atletas nos dias 9 e 10 de abril. Mas o que pouca gente sabe é que, para trazer as vitórias na bagagem, alguns esportistas de Londrina tiveram que literalmente lutar - não somente contra os adversários, mas também com a falta de investimentos e as dificuldades da viagem.


David Silveira é personal trainer e bicampeão pan-americano de kickboxing, porém o seu extenso currículo não lhe garante os incentivos necessários para participar dos campeonatos nacionais e estaduais. Proprietário da academia Fábrica de Campeões, o lutador, além de pagar os seus custos de viagem, estadia e alimentação para competir, é colaborador do projeto Servir Sempre, que leva o esporte a crianças e adolescente do assentamento Aparecidinha (zona norte de Londrina). Junto com Andersom Mafra, instrutor do projeto, e Carlos Silva, atleta apoiador e proprietário da academia Pé Vermelho, Silveira faz questão de mostrar que há esperança no esporte, apesar dos pesares.

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"O que eu estou fazendo é para dar oportunidade a eles. Eu sou adotado, tenho uma história de vida bem parecida com a deles e eu abracei as oportunidades que deram pra mim e consegui vencer na vida", diz.

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Sem nenhum apoio formal, a van, levando os 11 atletas (quatro da academia Pé Vermelho, quatro da academia Fábrica de Campeões e três do projeto Servir Sempre) e alguns familiares, partiu em direção a Corbélia, em busca do pódio. Na bagagem, trouxeram oito medalhas de ouro, uma de prata e dez classificações para o Campeonato Brasileiro, que acontecerá em 16 de junho, em Vitória (ES).

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Treinando há quase um ano no Servir Sempre, Erick Marley, de 12 anos, conhecido como Baianinho, conseguiu o ouro na categoria Point fight. Já Nicole Rodrigues, 14, com seis meses de treinamento alcançou a primeira colocação na categoria Kick light. Estevam, 16, outro participante do projeto, ficou em quarto lugar na categoria Light Contact.


A lutadora Fernanda Circhia também subiu ao primeiro lugar do pódio na modalidade Point Fight, além de alcançar o quarto lugar no Kick Light. Murilo Poltronieri, de 14 anos, conseguiu o primeiro lugar no Point Fight e o quarto no Light Contact. Fabio Araújo chegou à quarta colocação na modalidade Light Contact. Angelo Cantizani conseguiu um Ouro no Low Kicks. Galeno Miguel de Oliveira Neto subiu à primeira posição do pódio na categoria Low Kicks. O professor Carlos Silva conseguiu a prata no Point Fight. 

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David Silveira venceu na modalidade Kick Light, conseguindo o ouro e a classificação para o Campeonato Brasileiro.



Chegada a Corbélia

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Mesmo com o cansaço e as dificuldades, a viagem a Corbélia foi feita em clima de festa. Saindo de Londrina na madrugada de sábado, às 2h, e chegando ao destino às 8h, os atletas estavam animados e ansiosos para participarem da competição, que, para muitos, foi uma experiência inédita.


"Depois da primeira viagem de vinda da Bahia, o Baianinho nunca havia saído de Londrina. Pensa num 'piá' ligado no 220V", comenta Mafra.

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Após as lutas do dia, que aconteceram das 13h às 23h, a equipe deixou Corbélia de van e foi em direção a Cascavel, onde estavam alocados. Devido à falta de estrutura de Corbélia para um evento desta magnitude, o grupo encontrou dificuldade em achar casas e hotéis nas proximidades.


"A viagem toda foi muito cansativa. Corbélia é uma cidade linda, porém o evento foi maior que ela podia comportar e não havia mais hotéis disponíveis. A organização disponibilizou alojamento para os atletas, mas, como estávamos com algumas crianças, optamos por alugar uma casa em Cascavel, o que dificultou muito a logística, forçando toda a equipe a ficar o dia todo no ginásio no sábado", revela Carlos Silva, faixa marrom de Kickboxing e aluno do David Silveira.

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Nem mesmo o estresse da viagem pôde apagar os momentos de diversão. Fernanda Circhia diz que o clima familiar e de descontração ajudou a conter a ansiedade antes das primeiras lutas.


"Viajar com as crianças é super tranquilo. Nós nos divertimos muito. São vários atletas de idades e vivências diferentes. Nossa equipe se dá muito bem. Todos fazem o possível para ajudar uns aos outros. Antes de lutar, já vão fazendo aquecimento juntos, dando dicas, dando força, tudo que pode ajudar. Todos conversam e trocam ideias também. Nós sempre falamos que somos uma família", diz Circhia.

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"Tivemos o momento de convivência, fazendo a comida, todos comendo juntos", complementa Mafra.


Após descansaram, a equipe voltou à cidade sede da competição para a o restante dos atletas competir. Saíram domingo à tarde de Corbélia e chegaram a Londrina na madrugada de segunda-feira.



Projeto Servir Sempre


Se conseguir apoio em causa própria já é difícil para atletas profissionais, angariar alguma ajuda para um projeto social que visa o desenvolvimento de atletas periféricos parece ser quase impossível. Vendo talentos sendo desperdiçados por falta de amparo, Andersom Mafra idealizou o Servir Sempre, que atualmente conta com apoio da academia de David Silveira e Carlos Silva.


Silveira conta que o Servir Sempre consegue alguns incentivos, o que facilita no treinamento dos adolescentes do projeto. Segundo ele, o delegado da CBKB (Confederação Brasileira de Kickboxing) no Paraná, Fábio Galvão, e o presidente nacional, Paulo Zorello, doam equipamentos velhos que não servem para lutas formais, mas que ajudam no treinamento na comunidade. Os apoiadores ainda não cobram a inscrição e a filiação para as crianças participarem dos campeonatos, a fim de incentivá-las a não saírem do esporte.


Mesmo com todas os percalços, Mafra sabe da importância que o projeto tem na vida dos jovens atletas em ascensão e de suas famílias. O instrutor descreve com orgulho o motivo de ajudar na construção dos sonhos dos adolescentes.


"Eu vejo esse avanço pela força de vontade dessa criançada e a oportunidade que eles estão tendo, que é o diferencial. E Deus, que tem trabalhado pessoas para nos ajudar, como o David Silveira, o Carlos e a Fernada Circhia, que têm nos ajudado. Em tudo vemos oportunidade e presença de Deus", encerra.


Se depender da vontade de Silveira, o Servir Sempre não vai seguir se resumindo à zona norte. O bicampeão pan-americano tem ambição de ampliar a rede de apoio a atletas iniciantes.


"Essas viagens são uma experiência para as crianças que moram na periferia, por estarem em contato com atletas de alto rendimento. O meu intuito até o final do ano é abrir mais quatro projetos desse e formar mais campeões dentro e fora do ring e levar essa mulecada para lutar, ao invés de ficar na rua fazendo bagunça", completa.



Cria do Servir Sempre


Engana-se quem pensa que Nicole Rodrigues, um dos grandes nomes do Servir Sempre, chegou ao pódio sem enfrentar nenhum obstáculo. Moradora do Aparecidinha, a jovem, ao ver amigos praticando o kickboxing, também ficou tentada a participar. 


"Ela viu os amiguinhos dela luando com o Andersom, que é o treinador deles, e disse que queria tentar. Eu disse: 'então, vai com fé, que eu vou te ajudar no que puder'”, diz Fernanda Rodrigues, mãe de Nicole.


Com a assistência incondicional da mãe, a atleta começou o seu caminho no esporte se destacando. Com três meses de treinamento, participou de uma competição em Cambé, na qual levou a medalha de ouro e outro prêmio muito mais importante: o prazer de dar orgulho a quem tanto lhe apoiou.


"É uma emoção ter um filho subindo na vida e conquistando sonhos. Eu gravei a luta, estou assistindo todos os dias. Hoje eu vi umas três vezes. É algo surreal para mim. Quando era jovem, eu quis lutar, mas não tive o suporte. Então, ela, como filha minha, eu quis dar o suporte que eu não tive", revela Fernanda, emocionada.


O reconhecimento do talento de Nicole não foi exclusivo de sua mãe. Surpreso pelo esforço e superação da jovem, Andersom Mafra destaca o bom desempenho da atleta em pouco tempo no esporte. 


"Ela ganhou a medalha de ouro e não esperávamos. É claro que queríamos um resultado positivo, mas não imaginamos a força de vontade de arregaçar as mangas e vencer em tão pouco tempo", comenta.


Fernanda Rodrigues esteve presente na viagem a Corbélia, mas teve que deixar uma filha com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) e outra com autismo em Londrina para acompanhar o sonho de Nicole no kickboxing.

 

"Elas ficaram com o pai. Não foi fácil, fiquei conversando a todo momento para saber se tomavam remédio, se não aconteceu nada. Eu sou bem presente com todas, mas, como tinha que ir, fui. Eu me desdobro entre as duas mais novas, porque têm terapia, médico, exames, então, acabo ficando mais com elas", conta.


Sendo uma experiência nunca vivida, a dona de casa afirma que valeu a pena deixar a sua rotina de lado para acompanhar a filha em uma viagem tão distante.


"Não conhecíamos lá. Nós, pobres, não tínhamos a expectativa de ir viajar. Então, fui para dar suporte a ela, porque sou mãe coruja. É uma cidade longe e eu disse que, se eu pudesse estar junto, eu estaria. Então, fui dar a ajuda que eles podiam", afirma. Ela ainda conta que a vivência na viagem foi tranquila. "A convivência foi boa. Já tinhamos conversado [com os outros atletas], eles são muito legais, acolhedores, sempre conversando, sempre elogiando a Nicole, dizendo que ela tem futuro, que vai para frente e acabamos nos tornando amigos", encerra.


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