Ainda existem pessoas que critiquem e duvidem da afirmação do ministro da Saúde, Marcelo Castro, que diz não ter dúvidas da relação entre zika vírus e microcefalia em recém-nascidos.
"É questão superada", disse recentemente Castro, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. "A causa da epidemia de microcefalia é o vírus zika. O que não tem resposta ainda é se o vírus é causa suficiente para provocar microcefalia ou se precisa de alguns fatores contribuintes."
Qualquer cientista que analisar com rigor as evidências que vêm sendo enumeradas pelo ministro para provar essa relação causal se dará conta de que elas são insuficientes, diz o professor de epidemiologia da USP.
Leia mais:
Denúncias contra médicos por receita de hormônios cresceram 120% em um ano, diz CFM
Saiba quais doenças dão direito à isenção do Imposto de Renda
Centro de Doenças Infecciosas amplia atendimento para testes rápidos de HIV em Londrina
Saúde investiga circulação do vírus causador da Febre do Nilo no norte do Paraná
"Se formos analisar isso com rigor científico, o governo está chutando, tem quase que um palpite de que o Zika causa microcefalia. E o problema é que se estiver errado poderá ser responsabilizado pelas consequências do pânico que causou. Seria o maior escândalo global da área de saúde dos últimos anos. Tema de tese, de livro", disse ele à BBC Brasil.
O professor ressalva que não está dizendo que o vírus Zika não causa microcefalia. "É possível que sim", completa. "Hoje, se eu tivesse de apostar, ainda colocaria minhas fichas na existência dessa relação (de causa), mas ciência não é aposta e temos de admitir que estão surgindo evidências que mostram que precisamos de mais pesquisas."
No momento, a comunidade científica parece estar dividida sobre o tema. Parte diz acreditar que os estudos sejam suficientes para fazer essa relação causal entre zika e microcefalia.
Entre as pesquisas citadas por essa parcela estão um trabalho publicado no mês passado na revista científica The New England Journal of Medicine, que relatou o caso de uma jovem da Eslovênia, infectada por zika em Natal (RN), no primeiro trimestre da gestação.
O estudo está sendo considerado o mais completo já realizado por contar com imagens do feto, análises patológicas do cérebro danificado pelo vírus e o sequenciamento completo do vírus da zika encontrado nas estruturas cerebrais do bebê.
"Para mim, é evidência definitiva. Não se fala em outra coisa entre os cientistas", disse em uma entrevista recente o infectologista Esper Kallas, também professor da USP.
(confira a matéria completa no site da BBC)