A miopia, dificuldade de enxergar imagens distantes, é o problema de refração que mais cresce no mundo segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). No Brasil não é diferente. Cerca de 5,6 milhões de brasileiros são míopes com mais de 6 graus. De acordo com o oftalmologista, Leôncio Queiroz Neto, a miopia é hereditária ou causada por fatores ambientais. "A alta miopia geralmente está relacionada à herança genética", afirma. Para ele é um grave problema de saúde pública porque impõe limitações aos portadores. "Mesmo que usem óculos ou lente de contato corretiva convivem com restrições profissionais, nas atividades sociais e esportivas", exemplifica.
O especialista afirma que na miopia moderada e alta o globo ocular sofre alongamento. Isso facilita o descolamento da retina que também pode ter alterações em sua periferia. Outra doença comum entre míopes, ressalta, é o glaucoma pigmentar caracterizado por depósitos na câmara anterior do olho.
A boa notícia é que um estudo de coorte concluído pelo médico no final de 2012 comprova a segurança do implante de lente intraocular sem a retirada do cristalino para corrigir a alta miopia. Participaram do estudo 10 pacientes na faixa etária de 21 a 42 anos e miopia entre 6 e 20,5 graus. Queiroz Neto conta que o estudo foi iniciado em 2011. Todos os procedimentos foram realizados por ele e o período mínimo de acompanhamento dos pacientes foi de seis meses.
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"A comunidade médica considera o procedimento indicado para miopia a partir de 9 graus, mas alguns pacientes com vício refrativo moderado se sentem mais seguros de serem submetidos ao implante do que à refrativa", comenta. Isso porque, a lente pode ser trocada a qualquer momento se acontecer alteração na refração e apesar de o implante ser um procedimento mais invasivo, não retira tecido da córnea como acontece na refrativa. Por isso, a técnica evita o enfraquecimento corneano, pode ser aplicada em pessoas de córnea mais fina ou plana sem reduzir a visão de contraste ou causar flashes noturnos.
Seleção e cirurgia
O especialista diz que todos os participantes do estudo apresentavam:
- Estabilidade de grau há, no mínimo, um ano.
- Ausência de doenças no segmento anterior como: glaucoma, catarata ou processo infamatório.
- Densidade celular da camada interna da córnea adequada à faixa etária.
- Profundidade mínina da câmara anterior de 3,2 mm para evitar o aparecimento de glaucoma após a cirurgia.
- Diâmetro da pupila até 7 mm e astigmatismo de até 2 graus.
- Nenhuma cirurgia na córnea ou segmento anterior antes do implante.
Ele explica que a cirurgia é feita sob anestesia local e dura cerca de 30 minutos. "O cirurgião faz uma incisão de 2,7 mm na córnea, por onde introduz a lente que fica acomodada ente a íris e a córnea", afirma. Após o procedimento, comenta, todos os pacientes foram medicados com acetazolamida para evitar aumento da pressão intraocular, maior risco deste tipo de cirurgia.
Os participantes foram orientados a instilar colírio antibiótico e antiinflamatório durante uma semana e evitar atividades que possam traumatizar o olho. Todos os procedimentos foram feitos com um intervalo de uma semana entre um olho e outro, visando maior independência de lentes corretivas.
Resultados
Segundo Queiroz Neto a lente utilizada no estudo corrige de 6 a 16 graus de miopia. Dos participantes no estudo, dois tinham miopia maior que 16. Por isso, 80% ficaram livres da correção visual logo após o implante e 20% tiveram de passar por refrativa após dois meses para correção do grau residual.
O especialista diz que uma nova lente amplia a correção visual para até 23 graus de miopia e 6 graus de astigmatismo. ´"É uma alternativa que já venho utilizando para evitar que os portadores de miopia mais severa tenham de ser submetidos à cirurgia refrativa após o implante", comenta.
Na opinião do oftalmologista, embora este estudo não seja conclusivo, demonstra que a técnica é uma boa opção de tratamento para uma parcela crescente da população.