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"Ame, mas não sofra!"

Projeto ajuda parentes de dependentes químicos a lidarem com o vício

Agência Brasil
22 nov 2014 às 17:06

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Quando uma pessoa se torna dependente de drogas é muito comum que a família toda sofra as consequências desse envolvimento e adoeça junto. É uma relação hoje chamada de codependência, que muitas vezes precisa de atenção profissional.

Pensando nesta relação, a Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF), por meio do projeto Ame, mas não sofra! promoveu esta semana Curso de Multiplicadores de Ações de Apoio às Famílias de Dependentes Químicos.

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Segundo a coordenadora do projeto, Gianni Puglisi, é comum os pais colaborarem com o vício pensando que estão ajudando. "A família acha que está colaborando com a recuperação, quando na verdade está atrasando. Por exemplo: há mães que pagam dívidas dos filhos com traficantes ou outras que vão à boca [de fumo] comprar a droga porque acham o local perigoso para o filho, pais que dão dinheiro para o filho comprar droga, para que o dependente não roube. A família se torna facilitadora e isso é prejudicial para todos", contou Gianni.

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A coordenadora ressalta que a família deve entender que a dependência é uma doença que precisa de tratamento multidisciplinar. "A gente tenta dar uma chacoalhada na família para ela perceber que esse processo [de deterioração da família] não é normal, que a família não deve se anular, mas sim procurar ajuda. A gente procura informar através de psiquiatras que a dependência é uma doença, mas a família insiste que o carinho, o amor e o grito vão resolver, mas o que resolve é o tratamento".

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Fernando José Wanderley, psicólogo e palestrante do evento, explica que a família deve seguir adiante, apesar do problema de dependência. "A ideia é ensinar a família a se desligar emocionalmente do problema, a ponto não de abandoná-lo, mas manter uma distância saudável para seu desenvolvimento. Segundo o especialista, se as pessoas que estão ao redor seguirem suas vidas, continuarem suas profissões, forem ao teatro, tiverem uma vida normal, eles terão força para ajudar o dependente quando ele realmente quiser tratamento. "Se o adicto não quiser parar ele não para, não adianta a família se voltar toda para ele, se anular".


O especialista fala em "terapia da realidade", mostrar que o dependente tem apoio se ele quiser, mas que ele precisa querer sair da situação. Wanderley reconhece que na maioria das vezes não é fácil para a família se distanciar, mas ela deve fazer isso por etapas, "vivendo um dia de cada vez".

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Maria do Socorro Rodrigues emagreceu 7 quilos quando descobriu por meio da escola do filho que ele estava usando drogas aos 16 anos. "Foi um choque. Eu não sabia o que fazer". A aposentada conta que o filho já tentou tratamento várias vezes e hoje, aos 32 anos, está novamente se tratando. Aos poucos ela aprendeu a lidar melhor com o problema seguindo sua vida adiante.


"Quando ele, já depois dos 20 anos, ameaçou ir embora de casa eu disse que a porta estava aberta para ele ir embora e para voltar quando quisesse. Ele acabou não indo", relembra. Hoje Maria do Socorro participa do curso para aprender a lidar com a situação e também passar informações para o grupo da igreja onde ajuda dependentes e parentes. "Com o curso eu pude ver que a culpa de meu filho se drogar não foi minha. A gente acabe se sentindo culpada, mas não é".

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Já Fátima Pereira foi para o curso por interesse profissional. "Como assistente social da área de saúde já vi muitas famílias se desestruturarem por causa da dependência. O mais difícil é mover a família a pedir ajuda, mas ela também precisa de tratamento", ressaltou.


Fátima conta que já viu famílias perderem todo o patrimônio, tanto no tratamento de um dependente quanto com a falta de conhecimento de como dar limites a ele.

O projeto Ame, mas não sofra! tem quase um ano e atende parentes de dependentes na sede da Sejus-DF ou por meio do telefone (61) 2104 1868, identificando as necessidades da família e encaminhando para o atendimento de saúde, se necessário. Entre as pessoas que procuraram o atendimento neste primeiro ano de funcionamento, 80% são mulheres e metade destas mulheres, são mães de dependentes.


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