Historicamente, a cidade e seu entorno são considerados endêmicos para a febre maculosa no Estado. Porém, a doença não está restrita a este território. De acordo com o Ministério da Saúde, existem duas espécies da bactéria Rickettsia que estão associadas ao quadro infeccioso.
A espécie rickettsii é responsável pelos casos graves de febre maculosa e está presente, principalmente, no Norte do Paraná e nos estados da região Sudeste do Brasil. Já a espécie parkeri, que está presente em regiões do bioma Mata Atlântica, causa quadros menos graves.
O carrapato contaminado com a bacteria parasita animais (bois, cavalos, capivaras e cães) e pode parasitar humanos. No Brasil, o agente infeccioso está presente, principalmente, nos carrapatos-estrela.
Leia mais:
Só três capitais brasileiras fazem ultrassom de emergência em UPAs
Na saúde e na doença: casal enfrenta batalha contra as sequelas do câncer e da meningite
Corrida em prol do Hospital do Câncer reúne mais de dois mil atletas em Londrina
Nova variante do vírus Sars-CoV-2 é identificada no RJ, SP e SC
A FEBRE MACULOSA NO PARANÁ
A Sesa (Secretaria Estadual de Saúde) informou que, em 2023, o Paraná registrou um caso de febre maculosa, em Foz do Iguaçu, na região oeste do Estado. Após a confirmação dos óbitos em São Paulo, o governo paranaense informou que tem monitorado a doença com equipes técnicas da Divisão de Doenças Transmitidas por Vetores.
“A doença é monitorada no Paraná pela nossa vigilância ambiental. Estamos atentos, com equipes capacitadas e constantemente realizamos cursos e atualização junto ao Ministério da Saúde. Em caso de suspeita deve-se procurar imediatamente os serviços de saúde”, alerta o secretário de Estado da Saúde, Beto Preto.
Além da confirmação de um caso, o Paraná registra 43 notificações de febre maculosa, o que inclui quadros suspeitos. No último ano, de acordo com dados da Sesa, o Estado registrou 63 notificações, nove casos confirmados e duas mortes. Estes, por sua vez, aconteceram em Ribeirão Claro, município do Norte Pioneiro.
A cidade, que está localizada às margens do Rio Paranapanema, é conhecida por atividades ligadas ao turismo rural, uma vez que conta com uma série de represas, cachoeiras, morros e fazendas. Conforme explica Elizabeth dos Santos Araújo, enfermeira da Secretaria de Saúde de Ribeirão Claro, a bactéria responsável pela febre maculosa é encontrada com mais facilidade em ambientes de mata, como os citados.
"Nós temos muitas represas e cachoeiras por aqui, além de capivaras, que podem ter os carrapatos como parasitas. Recebemos muitos turistas, que se hospedam em sítios e fazendas na área rural. Além disso, temos visto um aumento no número de construções de casa de veraneio às margens dos rios", aponta.
Dados da Secretaria de Saúde do município mostram que, em 2023, 25 casos foram notificados, o que representa mais de 50% do total notificações no Paraná. Destes 25, 23 negativaram e dois estão aguardando resultado.
"Quando o paciente procura o serviço de saúde com os sintomas característicos da febre maculosa, ele é questionado sobre as áreas em que esteve nos últimos dias. Caso tenha estado em um ambiente de risco, notificamos o caso e fazemos a coleta de exames", conta Araújo.
A enfermeira diz, ainda, que os profissionais de saúde receitam a medicação contra a febre maculosa antes do resultado dos exames sorológicos. "O exame é colhido em duas etapas e não esperamos o resultado para entrar com a medicação. O paciente já sai do posto ou do hospital já com a receita. Preferimos pecar pelo excesso [de cuidado] do que pela falta."
DOENÇA PODE SER PREVENIDA
O Ministério da Saúde aponta que a febre maculosa pode ser prevenida. Para isso, é necessário a adoção cuidados, especialmente por pessoas que visitam ou moram em áreas de mata e/ou com animais, como casas de veraneio, fazendas, parques e sítios.
Dentre as principais medidas de prevenção, destacam-se:
- Vestir roupas claras, que auxiliam na identificação do carrapato, que possui uma coloração escura;
- Usarcalças, meias, botas e blusas de manga comprida ao caminhar por áreas com grama e/ou árvores;
- Aplicar por todo o corpo repelentes que tenham ação contra carrapatos;
- Evitar andar em áreas com grama ou vegetação alta.
Caso um carrapato seja encontrado aderido ao corpo, deve ser removido com cautela, de preferência com uma pinça. Após a remoção, o paciente deve lavar a área com água e sabão ou álcool. O carrapato retirado, por sua vez, deve ser mergulhado no álcool ou descartado no vaso sanitário.
ATENÇÃO AOS SINTOMAS
Os principais sintomas da febre maculosa são febre de início súbito, dor de cabeça e no corpo, que pode ou não estar acompanhada de aparecimento de manchas avermelhadas entre o segundo e quinto dia de evolução da doença.
"Os sintomas da febre maculosa podem ser confundidos com os sinais de outras doenças, como uma gripe forte e dengue. Mesmo assim, o paciente precisa procurar o serviço de saúde para ser atendido o quanto antes", aplica Araújo.
CASOS E ÓBITOS EM CAMPINAS
Os quatro óbitos em decorrência de febre maculosa registrados em Campinas neste ano apresentam um fator em comum: todos frequentaram eventos na Fazenda Santa Margarida. Além das mortes, o município registra dois casos suspeitos da doença. As pacientes também estiveram na propriedade.
A estudante de psicologia Ana Carolina Santos, que é moradora de Campinas, afirma que, na cidade, áreas como parques e praças que contam com áreas gramadas e com a presença de capivaras apresentam sinais de alerta.
"Aqui a gente vê muitas placas alertando que esses ambientes têm risco de contaminação de febre maculosa. Então, já sabemos que precisamos ter mais cuidado nesses pontos, especialmente com as roupas que usamos", conta.
Santos relata, ainda, que não tem se sentido segura para frequentar alguns locais na cidade, como a Lagoa do Taquaral. "Tenho evitado ir a alguns lugares. Na Lagoa do Taquaral as capiravas transitam entre as pessoas, então o risco é grande."