O jovem terminou condenado a cinco anos e quatro meses em regime semiaberto. O crime foi praticado com outros dois adolescentes, que nunca foram apreendidos pela Polícia Militar. Durante audiência no Fórum, o ladrão confesso disse que conheceu a dupla depois de passar um período no Cense (Centro de Socioeducação), que abriga menores infratores. Na unidade, Júlio cumpriu pena por roubo. No interrogatório, ele disse que é usuário de drogas.
O Peugeot foi encontrado dois dias depois por policiais militares no residencial Vista Bela, mas não foi fácil prender o criminoso. Ao notar a presença da PM, Julio tentou escapar, mas bateu o carro em uma árvore. Resultado: pane total. "Perdi mais de 20 mil por causa dessa imprudência. Mas o pior mesmo é o dano psicológico", relatou a enfermeira ao blog. Atenta a detalhes, ela descreveu minuciosamente o que considera um dos dias mais terríveis de sua vida.
"Assim que os vi, aguardei um pouco para estacionar. Quando eles passaram pelo portão da casa que eu entraria, esperei ainda mais, sendo que resolvi só parar o carro depois de alguns minutos. Ao descer e olhar para a direita, visualizei que um já estava apontando a arma pra mim. Ele gritava: Perdeu! Perdeu! Fica quietinha!", diz, assustada, ao recordar o roubo.
A vítima prossegue. "Cheguei a pensar que o revólver era de brinquedo, mas joguei essa ideia pra longe depois de sentir o cano quente no meu abdômen. Foi um momento pra lá de aterrorizante". Abordada, ela notou a chegada rápida de Julio e o terceiro ladrão. "Eles pediam a chave, eu entreguei, mas não fui liberada até desativar o alarme. Foi muito rápido e silencioso", observou.
Se a cifra do prejuízo ocasionado pelo acidente pode assustar muita gente, o desânimo, pelo menos da proprietária, aumentou sobremaneira depois que a enfermeira, ainda atordoada com a abordagem dos assaltantes, lembrou-se dos outros objetos que estavam em seu carro: uma mochila preta, máquina de cartão, o notebook com a tese de mestrado e 300 peças de semi-jóias, além de documentos pessoais.
Na época, a jovem conciliava os plantões dados em um hospital público de Londrina com vendas alternativas de jóias. Ela havia ingressado no ramo há apenas seis meses e usava o dinheiro arrecadado para complementar a renda mensal. Coincidência ou não, duas correntes de prata, avaliadas em R$ 500, ajudaram a polícia a deter Julio e no posterior reconhecimento dele na delegacia.
As correntes de prata que ajudaram a polícia a identificar Julio como autor do roubo
No interrogatório prestado à Justiça, o rapaz não hesitou ao confessar que usou as peças da motorista, que hoje se desdobra em três para pagar os estragos provocados por Julio. "Estou fazendo o máximo para reparar estas perdas materiais. Psicologicamente e fisicamente, só o tempo para apagar. Mesmo com a terapia, tem sido difícil. Sempre me pego pensando neste incidente. A sensação é de incapacidade. Tudo o que eu faço traz medo, desconfiança. É desconfortável", concluiu a vítima, que, daqui pra frente, almeja por dias mais tranquilos.