Gilmar Teixeira, 61 anos, era pé-vermelho de nascença. Trabalhou instalando redes telefônicas durante boa parte da vida e foi atrás da aposentadoria - ainda não alterada pela reforma da Previdência do presidente Michel Temer - quando o vigor físico já não era mais o mesmo. Um salário mínimo. Esse foi o irrisório valor que o agora ex-operário das telecomunicações receberia, segundo os trâmites federais, nos próximos anos.
Desconfiado, Teixeira saiu de São Paulo (SP), onde passou a morar com a família, e voltou pra Londrina rever o "benefício". Mas o idoso não teve nem tempo de sacar a primeira parcela. É que na noite de 1º de março, no cruzamento das ruas Uruguai com Maranhão, no coração da cidade, ele foi arremessado após ser atingido por um Peugeot, que trafegava em alta velocidade.
Quem conduzia o carro era Leandro Juliani Lazari. Com as mãos ao volante e a carteira de habilitação vencida, o motorista, conforme a Guarda Municipal, não parou para prestar auxílio à vítima. A atitude gerou um indiciamento por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, e omissão de socorro. Lazari foi parado pela população que presenciou o grave acidente. Ele terminou a noite na delegacia, mas foi solto no dia seguinte por decisão da juíza Ana Paula Becker.
O Peugeot foi levado ao pátio do Detran. Já o corpo de Gilmar Teixeira, aquele que ainda sonhava em curtir - ou pelo menos tentar - o pouco que receberia do governo, parou no IML. O pedestre até chegou a ser encaminhado em estado delicadíssimo para o Hospital Evangélico, mas não resistiu durante a madrugada. "Ele (Lazari) jogou o meu tio pro outro lado. Não dá pra explicar o tamanho da dor que a gente sente. Era uma pessoa honesta, reta e trabalhadora", afirmou, mesmo entre lágrimas, a sobrinha de Teixeira, Cátia Teixeira.
Ela também reclama que não teria recebido nenhum contato de solidariedade de Lazari. "O meu tio morre e fica assim mesmo? É muito difícil de entender. Teria que ser feito algo para mudar essas leis. É um crime, não é diferente só porque ele está ao volante. Isso não pode mais acontecer", disse. O motorista foi liberado da prisão depois de pagar uma fiança de quatro salários mínimos.
A Justiça ordenou que ele permaneça em casa das 22h às 6h, regra estendida aos finais de semana.