Senhores corruptos e corruptores,
Ontem à noite, uma aluna do curso de Jornalismo, a Francilayne Miranda, apresentou-me uma matéria que fez para o nosso jornal laboratório. Quase chorei quando li.
Ela, desprezíveis senhores, visitou abrigos de Londrina nos quais moram crianças e adolescentes vítimas de violência ou que foram abandonadas por suas famílias. Em sua matéria, a Francilayne faz relatos chocantes das condições em que vivem esses pequenos brasileiros, privados do convívio familiar e de condições básicas de higiene e saúde.
Os mantenedores dos abrigos se esforçam, mas pouco podem fazer com as parcas verbas que lhes são repassadas. A desculpa governamental, de todas as esferas, é sempre a mesma: faltam recursos.
É óbvio que faltam recursos, pois eles estão em vossos bolsos, em vossos carros de luxo, em vossas contas no exterior. Em nome da vossa ganância, de vossas vontades, de vossos caprichos; hoje mesmo uma dessas crianças, já maltratadas pelo grave problema familiar, dormirá com fome e com frio. Vocês sabem o que é fome?
Por causa dos desvios de recursos públicos feitos por vós, em algum lugar do Brasil neste momento está morrendo um cidadão porque não conseguiu tratamento médico adequado. Enquanto você lê estas linhas, pode ser que mais alguém morra no trânsito por falta de uma faixa elevada. Nas estradas, morrerão algumas pessoas nas próximas horas por falta de duplicação, de terceira faixa ou por excessos de buracos.
Vocês, senhores do colarinho branco, da camisa engomada, do sapato vistoso, amantes da propina, são assassinos. Repito: assassinos. Por causa de vossa roubalheira, brasileiros morrem. Vocês bem que mereciam o mesmo tratamento dado àqueles que matam por causa do acerto de conta no tráfico de drogas, que matam para surrupiar um relógio ou um aparelho de telefone celular.
Se justo fôssemos, estariam também em celas apinhadas e superlotadas. Seriam "apresentados" pela polícia aos repórteres de programas policiais quando presos e ficariam com queixos encostados no pescoço balbuciando um "nada a declarar".
Mas, mesmo presos, vocês da Lava Jato, da Publicano, da Voldemort e afins, gozam de certas regalias, às vezes em nome de vossa segurança. Muitos fazem cara de cachorro sem dono enquanto tentam esconder a face das câmeras.
Alguns de vocês, eu bem sei, chegam a acreditar que não cometeram crime algum e que um desvio ou outro de dinheiro público não faz mal a ninguém. Pois, eu lhes esfrego na cara: faz!
O que vai para o vosso bolso deixa de ir também para a escola pública, para o posto de saúde, para programas sociais, culturais, para a segurança. Está em vosso poder a gasolina que falta na viatura da PM. Está em vossa conta corrente oculta a grana para contratar fiscais do Ibama que poderiam interferir no desmatamento da Amazônia, da Mata Atlântica.
O cidadão trabalhador e pagador de impostos não aguenta mais. Não dá mais para jogar a conta nas costas dele. A carga tributária chegou ao limite, ao teto. A inflação vai pelo mesmo caminho. Não tem mais de onde tirar montantes para financiar vossos crimes. Nem para a caridade, para a filantropia está sobrando dinheiro no bolso do trabalhador.
Mudem de atitude. Arrependam-se. Vivam do que vosso suor lhes proporcionar. Verão que isso é bom.
E, você que já foi alcançado pela PF ou pelo Gaeco e ainda não contou com a benevolência de um habeas corpus e também você que logo será preso, não reclame da cela fria. Há alguém que nunca surrupiou o que é dos outros passando dificuldades maiores que a sua.
Lembre-se das crianças nos abrigos. Elas são privadas de felicidade por causa das agruras da vida e de direitos básicos por vossa culpa.