Croniqueta
A sabedoria do taxista
Paro no semáforo da Borba Gato com a Bandeirantes. O rádio, ligado na CBN, fala de um médico vítima de latrocínio no Rio de Janeiro. Como Londrina ainda está um pouco mais tranquila que o Rio, meus vidros vão abaixados. Se bem que estariam assim mesmo que eu morasse na capital fluminense. Faz calor por volta das duas da tarde e o meu bravo Uno Mille não é dotado de ar-condicionado.
Ligado no repórter, que descrevia como um adolescente desferiu facadas no tal médico, demorei para me ligar que o taxista que parou ao lado falava comigo.
- Muito ladrão aí no seu rádio? – questionou.
- Ultimamente, em qualquer tipo de noticiário, o que mais tem é ladrão.
- Pois é, e ainda estão querendo desenterrar mais um! – ele replicou, com bom humor, numa referência clara ao pretenso pedido de exumação do nosso Zé mais famoso, o Janene.
Com um olho no sinal, ainda vermelho, e outro no meu interlocutor, limitei-me a sorrir. Mas o taxista ainda tinha alguns segundos para se mostrar sábio.
- Rapaz, eu sou um trabalhador. Levo minha vida com pouco dinheiro, mas com muita alegria, paz e tranquilidade. É tão bom. Estes caras deviam saber como é viver assim.
A luz ficou verde. Nem deu tempo de responder. Apenas sorri mais uma vez para ele, que virou à esquerda na Bandeirantes. Eu segui em frente, mais contente depois de um papo de vinte segundos com um desconhecido.