Crônica
Estava eu na padaria tomando o meu costumeiro café após o almoço quando fui interrompido por um sujeito todo falante. Gel nos cabelos, uns 35 anos, óculos escuros na testa, jeito malandrão no palavreado.
- Opa, você é o que escreve? – questionou, já puxando cadeira e sentando.
- Bom, eu escrevo, como tanta gente escreve...
- Mas digo escrever assim, profissionalmente, né? Já vi seu blog. O cara do caixa confirmou que você é você. Vou direto ao ponto, preciso dos serviços de um escritor, um favor na verdade. Tô apaixonado por uma moça aí e preciso me declarar para ela com palavras bonitas, entende?
- Entendo, mas eu não sou escritor. Sou jornalista. Você deveria procurar o Domingos Pellegrini, o José Pedriali, o Paulo Briguet, a Célia Musilli...
- Não, eles são famosos, de difícil acesso. Já você tá sempre aqui na padaria, sem fazer nada.
Aí eu já espanei. Que sujeito folgado.
- Como assim sem fazer nada? Passo aqui rapidão para tomar um café enquanto leio alguma coisa e volto para o meu trabalho. Olha, amigo, eu não vou escrever nada para você. Muito menos carta de amor. Além disso, tô atrasado. Tenho que ir.
- Não, não, não. Peraí. Não me leve a mal. É sério. Por favor. Já não sei mais o que fazer para a Nina me dar bola. Tô gamado, cara. Quebra esta para mim.
- Não é mais fácil você chegar para a tal Nina e dizer que gosta dela?
- Ela não dá mole. É tíiiiiimida. Chamo ela para conversar a sós, mas sem chance. Ela foge. Sei que tá na minha, por isso tenho que me declarar por carta. Depois é só partir para o abraço.
- Putz! Então anota aí...
- Tô sem papel, mas vamos improvisar.
Ele pegou alguns destes guardanapos de papel que ficam em cima da mesa. Ditei.
- Nina, tô pirado na sua. Qual a chance de rolar um romance entre a gente?
- Que mais?
- É só.
- Você acha que com um bilhete chinfrim desse ela vai me dar mole?
- Sei lá, você disse que ela "tá na sua..."
- Putz, eu devia saber. Se você fosse bom não ia tá aqui à toa. Passa aí o telefone do Pellegrini.