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O brilhante Walter Ney

07 out 2015 às 10:59
Ney ao lado de algumas obras que integram a exposição - W.S.
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O boom do café no Norte do Paraná, nas décadas de 1950 e 1960, propiciou a Londrina ser agraciada com uma gama de imigrantes e migrantes, gente que chegava à cidade com muita vontade de fazer riqueza, construir um futuro.


Entre tantos, em um pau-de-arara que viajou dois mil quilômetros desde Andaraí, na Bahia, estava uma certa Idinha, apelido carinhoso de Maria Margarida, moça inteligente, que mal completara 20 anos e já tinha nos braços um menino de dois anos, do qual, como se dizia na época, era "mãe solteira".

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O garoto que enfrentou chuva e sol na longa viagem, tendo como proteção somente os braços da mãe, chama-se Walter Ney, tem hoje 58 anos e se tornou uma das mentes mais criativas de Londrina. A exposição fotográfica "Cidade Revisitada", que segue até 31 de dezembro na Galeria de Artes do Sesc Cadeião Cultural, é prova disso.

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Mas a exposição é assunto para os próximos parágrafos. Antes é preciso dizer que Idinha foi colona nos cafezais por um breve período, depois se tornou empregada doméstica, passando a morar na cidade, fazendo trabalhos também de costureira, mostrando-se sempre muito criativa.
"Junto de minha mãe, vieram tios e tias, de forma que eu tinha vários pais e várias mães. Nunca me senti sem pai", rememora Ney.

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Aos 10 anos, com o casamento da mãe, surgiu o padrasto, Hamilton, que o incentivou a estudar, fazendo com que o garoto fosse dos poucos alfabetizados no clã familiar e responsável por escrever as cartas que davam notícias para os familiares que ainda estavam na Bahia.
Londrina entrou nos anos 1970 e a família passou a morar na Vila Casoni. Certo dia, na casa ao lado se instalou um cidadão que fazia pinturas, com cavalete e tudo, coisa de profissional. Já adolescente e com gosto para a pintura, Ney foi bater palmas no portão do vizinho.


"Ele me explicou que trabalhava com reproduções. Eu disse que gostava de pintar. Ganhei meu primeiro emprego", conta.

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Ocorre que, naquela época, não havia fotografia colorida como hoje. O que as pessoas tinham, especialmente as mais humildes, eram as fotos da carteira do Inamps, da carteira de identidade ou algum 3X4 feito por lambe-lambe. É aí que entra a fotopintura.


Um vendedor saía de porta em porta, perguntando quem queria transformar aquelas fotos de documentos em um bonito retrato colorido. Muitos queriam. O homem pegava a foto do cliente e punha junto com uma ficha, na qual escrevia qual era o tipo de roupa que o mesmo gostaria que passasse a compor a imagem, a cor e outros detalhes.

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A foto 3X4 ia para o laboratório, era ampliada, só a cabeça, e todos os outros detalhes eram feitos à mão, por pintores, como Ney. "Para agilizar, usávamos chapas de raio-x como moldes para construir os corpos", explica.


Conforme a fotografia evoluiu, as fotopinturas perderam espaço e fregueses e, Ney, o emprego. Foi trabalhar como vendedor de passagens da TransBrasil, depois em agências de turismo, até se tornar funcionário público. Porém, a paixão pela fotografia estava consolidada e a máquina se tornaria companheira para sempre.

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Chegamos à exposição "Cidade Revisitada". Ney voltou ao tempo em que trabalhava com o vizinho e, agora, usou chapas de raio-x, exames a que ele mesmo, seus filhos e sua mulher se submeteram, para compor com suas fotografias, usando também flores, rendas, tecidos, fazendo nascer um trabalho de encher os olhos e de provocar reflexões.


Walter Ney
Walter Ney - Imagem que faz parte do acervo da exposição 'Cidade Revisitada'
Imagem que faz parte do acervo da exposição "Cidade Revisitada"


"É o meu trabalho mais maduro. Uma leitura e um resgate do meu início", ele comenta. No convite para a exposição, sintetizou: "Radiografias de corpos e imagens se fundem, para novas abordagens do espaço e da própria cidade com seus vários sintomas alterados. Ainda que a índole das imagens seja poética, elas solicitam atenção. Há gritos sutis pedindo socorro..." Vale lembrar que o espaço que abriga a exposição já foi cadeia pública. Das piores.

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Poderíamos ainda contar que ele já ganhou três títulos mundiais em provas de saltos triplos e saltos em distância em jogos para bombeiros e policiais, mas aí já é assunto para uma próxima.


Mas não dá para finalizar sem dizer que, aos 58, o artista acaba de conhecer seu pai biológico, seu Florisvaldo Barbosa, 76, o qual ele sempre pensou que já tivesse morrido. "Há dois meses, ele foi visitar o sertão baiano, coisa que eu também faço quando posso. Por isso, me conhecem por lá. Então, me ligaram da Bahia e me disseram que meu pai estava vivo, com residência em São Paulo. Fui encontrá-lo. E foi um encontro feliz, sem mágoas. Começa uma nova fase."


Walter Ney
Walter Ney - Mais uma imagem da exposição 'Cidade Revisitada'
Mais uma imagem da exposição "Cidade Revisitada"

Serviço: A exposição está aberta para visitação até 31/12.
O Sesc Cadeião Cultural fica na Rua Sergipe, 52.
Telefone: 43 3572-7700 – Entrada gratuita


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