Trata-se de peça de bronze, de 65 centímetros de altura, desaparecida misteriosamente de uma praça de Londrina. A história é a seguinte:
Silvandira Ferraresi de Almeida é uma agradável senhora de 85 anos de idade. Conversa com jeito de professora paciente. Tem na ponta da língua todos os dados históricos da primeira turma a cursar o ensino ginasial em Londrina, da qual ela própria fez parte, ingressando em 1941 no Ginásio Londrinense, a primeira instituição daquele sertão de mata densa e terra vermelha a oferecer mais que o primário. Ela está à procura de um monumento histórico, um busto para ser mais preciso.
Antes da inauguração do Londrinense, quem quisesse cursar o ginasial tinha de ir para longe da família. Jacarezinho, ainda no Paraná já na divisa com São Paulo, era o que havia de mais próximo.
O fundador do ginásio pioneiro em Londrina era um homem que, nas décadas de 30 e 40 do século passado, realizava na prática o que os políticos do horário eleitoral de hoje ficam repetindo como mantra: saúde e educação.
Pernambucano, formado médico em 1928 pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Jonas de Faria Castro chegou a Londrina em 1937. Vinha de Carangola, Minas Gerais, onde já fundara o Ginásio Carangolense, conforme contam Agnaldo Kupper e Paulo André Chenso, no livro "A edificação de uma história – do Ginásio Londrinense à UniFil." (Editora UniFil – 2013).
Na nova terra, doutor Jonas foi obrigado a fundar, antes de mais um ginásio, um hospital. Encontrando dificuldade para ser aceito pelos colegas que atendiam no "hospitalzinho" mantido pela Companhia de Terras Norte do Paraná, ele não se fez de rogado e abriu o próprio espaço para receber seus doentes, oferecendo 16 leitos para internamentos e até salas cirúrgicas. Depois fundou o ginásio que permitiria estudo a Silvandira e a uma infinidade de alunos de turma posteriores.
Em 1945, Jonas de Faria Castro morreu. Pelo seu empreendedorismo, o governo municipal, em 1953, achou por bem homenageá-lo dando seu nome a uma praça, nela instalando ainda um busto de bronze com a feição do médico, ao lado do então Ginásio Londrinense, na confluência da Rua Quintino Bocaiúva com a Rua Santos.
É justamente este busto que Dona Silvandira e mais três colegas do tempo de ginásio - Kilda Gimenez, Paulina Silveira e Francisco Busto Moreno - hoje estão a procurar.
Na década de 1970, o prédio do colégio construído por Castro foi demolido, mas seu busto ficou firme na praça ao lado, a olhar melancolicamente para o terreno vazio. E assim seria por muitos anos, até a chegada de um novo século, marcado por mais tecnologia e muito menos educação e consciência histórica.
Já nos anos 2000, vândalos derrubaram o busto do doutor Jonas da base de concreto e mármore. "Ligamos para a prefeitura, eles vieram, recolheram, arrumaram e colocaram no lugar de novo", conta Delcides Bueno, comerciante que trabalha há 31 anos na praça, antes com um quiosque e atualmente com uma Kombi que lhe serve de estabelecimento para a venda de garapa.
"Pouco tempo depois, isso era 2007, voltaram a derrubar o busto. Veio uma viatura da polícia e recolheu e peça, que nunca mais voltou", complementa o comerciante. "Desde então, esta praça ficou insignificante", finaliza Bueno.
Silvandira compartilha do desapontamento do garapeiro. "Jonas de Faria Castro foi uma pessoa de grande valor. É uma pena que tenham feito isso." Mas ela não fica apenas na melancolia. Além dos colegas de turma já citados, encontrou aliados na "caça ao busto perdido".
Entre eles, Marcio Almeida, filho de Silvandira, que foi atrás de pessoas e entidades e formou o "Movimento pela Recuperação da Praça Doutor Jonas de Faria Castro", que quer encontrar o busto e, lógico, revitalizar a praça.
A reportagem deste blog entrou em contato com o Quinto Batalhão de Polícia Militar. O responsável pela comunicação da instituição, capitão Nelson Villa, disse que não considera a hipótese de o busto ter sido recolhido por policiais militares. "A informação não procede", resumiu. "Mesmo assim, depois de recebermos um ofício (enviado pelo pessoal do movimento acima mencionado), considerando a eventualidade de ter vindo para cá, fizemos uma busca e não encontramos. Não está aqui", enfatizou o capitão.
Quem sabe então no depósito da Polícia Civil? Na 10a Subdivisão Policial, o homem responsável pelo depósito, Rafael Rosseto, disse que também não tem notícia do monumento. "Busto? Conosco não está."
Será que, por acaso, não foi guardado pelo pessoal da Prefeitura? Falamos com Vanda Moraes, diretora do Patrimônio Histórico. "Na Prefeitura também não está. Reza uma lenda que a polícia levou. Outra que foi furtado, derretido e transformado em outras substâncias..."
A professora Regina Célia Alegro, diretora do Museu Histórico, fez a gentileza de enviar por e-mail a página do Inventário de Monumentos do Plano Diretor de Patrimônio Histórico-Cultural. Trata-se de uma ficha completa do busto do doutor Jonas, contendo até foto, a qual reproduzimos ao pé deste texto.
Silvandira, Marcio e os demais membros da Comissão darão as buscas por encerradas na próxima sexta-feira, 5. Se o busto não aparecer, começarão a pensar numa forma de levantar dinheiro para mandar fazer outro. Querem devolvê-lo à base que o espera, vazia, na data em que a cidade completará 80 anos, dia 10 de dezembro de 2014.
Imagem do busto feita em 2004
E você, tem notícias do busto deste nosso pioneiro? Se a resposta for sim, escreva para [email protected] ou para este blog. A memória do doutor Jonas agradece. Ele não merece que seu busto seja caso de polícia, tampouco um "procurado".
Autor: Wilhan Santin