Crônica
‘Prometeis revelar a senha do Facebook?’
Dos tempos dos nossos avós para cá, os relacionamentos conjugais mudaram barbaridade. As mulheres ganharam o mercado de trabalho, os homens passaram a ajudar no serviço doméstico. Conheço casais nos quais o marido nem sabe guiar automóveis. Quem comanda a boleia com a pequena família – dois filhos hoje em dia é prole considerável – dentro do possante é a patroa. Se bobear, ela também troca o pneu. Que bom.
Mas, para mim, o símbolo maior da modernidade conjugal atende pelo nome de redes sociais. Você já pensou que a vida de um relacionamento hoje em dia está dentro de um aparelho de celular? A vida que eu digo é no sentido de o casal continuar junto ou não. Dependendo do que um descobrir no zap zap ou Facebook do outro, tchau, tchau, my love.
Por isso, alguns casais adotam a estratégia de ter contas conjuntas, além do banco, também na web, tipo um perfil com o nome Paula e Pedro Silva. Aí a rede social te avisa que é aniversário do seu amigo Paula e Pedro Silva. E você não sabe se manda parabéns para a Paula, para o Pedro ou para os dois, sei lá.
Dizem que o Vaticano estuda, de forma secreta, incluir mais uma pergunta no ritual do casamento. Depois daquela parte "você promete ser fiel, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, amando-a e respeitando-a...?", o padre irá perguntar: "você promete também fornecer à Fulana (ou Fulano) a senha do seu Facebook e do seu WhatsApp?".
Consta que, no último sábado, um padre do interior de Minas Gerais, sabendo das intenções de seus superiores, resolveu fazer a tal pergunta mencionada acima, como teste, em uma celebração de matrimônio. O noivo titubeou, tossiu, engasgou e, sem saída, simulou um desmaio. Só "acordou" novamente quando o sacerdote mencionou que ele não precisaria mais responder, que era só brincadeirinha.
Porém, a modernidade tem lá as suas vantagens. Ontem à noite fui a um jogo de futebol com churrasco na sequência. Meu amigo Thiago teve dificuldades para acender a churrasqueira. Justificou-se dizendo que a lenha estaria úmida. O fato é que à meia-noite ainda não havia carne assada.
Não posso citar nomes, mas alguns correram fotografar a churrasqueira para enviar fotos às esposas mostrando que a carne ainda estava crua, o churrasco atrasado, consequentemente atrasando também o regresso masculino ao lar.
E tem as desvantagens. É famoso o caso daquele rapaz que, ao convidar os amigos em um grupo do tal zap zap para uma festinha em um local, digamos, longe do que recomendam os bons costumes, esqueceu o aparelho de celular, desbloqueado, em local acessível para a esposa. Deu divórcio.
Há casais que, abrigados sob o mesmo teto, se falam por meio de mensagens eletrônicas. Coisas como: "quando vier aí do quarto me traga um travesseiro para eu deitar aqui no sofá."
Isso me preocupa. Em outra crônica por aqui já citei um pensamento de meu amigo Dorico da Silva, que foi fotógrafo da Folha de Londrina. Mas repito, pois acho que ele está certíssimo. É mais ou menos assim: "chegará o dia em que fotografaremos por pensamento e as mulheres engravidarão por telepatia."