Você gosta de irreverência? De honestidade? Gosta de esculachar os padrões sociais e literários? Então você precisa conhecer o nosso entrevistado de hoje, o escritor Marcelo Mirisola.
Marcelo nasceu em São Paulo, em 1966, formou-se em direito, e é autor de contos, crônicas e romances politicamente incorretos. Algumas de suas obras: Fátima fez os pés para mostrar na choperia (1998). O herói devolvido (2000), Bangalô (2003), Proibidão (2008), Animais em extinção (2008) e outros.
1. Soube de um curso ministrado em São Paulo, cuja proposta é ensinar aos escritores a vestir-se, falar e ter postura de escritores. Para ser escritor é suficiente escrever ou é preciso cultivar uma imagem?...
R. Aposto que eles também ensinam a elaborar planilhas& projetos pra Petrobrás e pra Funarte. Porque, na cabeça dessa gente, o escritor tem que ter um projeto antes de tudo, e também deve fazer muitas pesquisas. Como é que um cara vai escrever um livro sem ter um cronograma, né? Nesse diapasão, os alunos devem aprender a puxar o saco de colunistas sociais disfarçados de críticos literários e aprendem a desfilar de chapéu panamá nas ruas da Flip. O que mais? Imagino que eles aprendem a fazer trocadilhos no tuíter e também deve ter uma matéria que ensina a equilibrar bolas coloridas no focinho e outra matéria que ensina a distrair madames deslumbradas e carentes na Casa do Saber. Pra que escrever, se é mais fácil ficar de quatro e gozar pelo ânus?
2. Susana Vieira (artista global sexagenária, mas sem experiência na área de letras) foi convidada por uma revista para publicar crônicas enquanto bons escritores são ignorados. Na sua opinião o que é mais importante, o nome famoso ou o texto?
R. Pelo menos a Susana Vieira é uma nulidade autêntica. Não precisa ficar fazendo pose de escritora. Sob esse aspecto, ela tem muito a dizer. Ela é uma mulher que freqüenta outras Mercearias São Pedro, entende?
3. É possível que escritores esculhambados pela crítica como Paulo Coelho consigam reconhecimento digamos... no século XXII?
R. Reconhecimento de quem? Do Portugal Telecom? Do Jabuti? Do Daniel Piza? Dos professores da Unicamp? Da revista Bravo!? Paulo Coelho pode ser ruim, pode ser um charlatão. Mesmo assim, ele não precisa dessas merdas. Aliás, nenhum escritor (nem o Paulo Coelho) devia se abalar com prêmios nem com a critica literária brasileira. Essas "instituições" são uma piada. A lógica de funcionamento deles é o fisiologismo, essa gente é podre e comprometida. São fichas sujas. Antes, eu me sentia injustiçado por ter ficado de fora dos prêmios e editais. Hoje, me sinto envergonhado pelo fato de ser escritor no Brasil.
4. Como você vê o futuro da literatura em Curitiba, no Brasil e no mundo?
R. Se Kafka e Borges fossem curitibanos e publicassem hoje , ainda assim, o futuro da literatura de Curitiba seria Paulo Leminski e Dalton Trevisan. Vale a mesma coisa para o estado do Paraná, para o resto do Brasil e para o mundo.
5. Se você fosse abandonado numa ilha deserta, mas tivesse a possibilidade de levar cinco livros com você. Quais seriam esses livros?
R. Tá maluca? Já não bastaria o isolamento natural? Pra que outro isolamento artificial? Não levaria livro nenhum.