"Há muito pouco tempo, não havia filmes em ônibus, aparelhos de televisão em restaurantes, comerciais nas camisas de jogadores de futebol, outdoors margeando as estradas, celulares tocando nos concertos, teatros e congressos."
Essa frase é do livro A Indústria Cultural Hoje (Boitempo Editorial, 2008, 216 páginas), uma obra provocadora, instigante, desafia o leitor a repensar a realidade. Faz-nos lembrar um antigo questionamento: o homem pensa ou o homem é pensado pela sociedade? Imaginemos um jovem que não participa dos ícones da indústria cultural. Os amigos perguntarão: Você não leu o último best-seller? Não escutou esse CD que toca adoidado na rádio FM? Você não assistiu àquele filme que rendeu milhões de bilheteria? Em que mundo você mora?
Wolgang Leo Maar escreveu na introdução: "jamais fomos menos donos de nosso nariz por conta das onipresentes imposições da lógica do mercado e do capital."
A obra discute a vitalidade de um termo concebido há mais de seis décadas diante da então vigorosa experiência fascista da sociedade de massa. "Indústria cultural" é o conceito que passou a ser usado por Adorno, no lugar de "cultura de massa". Em muitos contextos, o termo cunhado aparece totalmente desvinculado de suas reflexões, lembremos que o termo é usado no business schools, e é nesse espaço que os artigos de A Indústria cultural hoje se inserem, ao manter o questionamento sobre a atualidade do conceito de indústria cultural.
Wolgang Leo Maar repete o alerta de Adorno, não há cultura "inocente". Adorno mostrou a influência não apenas do que os personagens dizem num filme,mas de como se comportam, quais seus padrões, como se inserem socialmente etc. A indústria cultural é o avesso da autonomia. Implica um amálgama de cultura e economia por meio do qual a dominação no plano da subjetividade estaria condicionada à estrutura social. A indústria cultural enquadra os homens contemporâneos como massa". "Massificado" é o homem que pensa aquilo que os outros pensam e faz aquilo que os outros fazem.
Gostamos de pensar que somos livres para escolher, mas o que aconteceria se alguém confessasse que não gosta dos livros de Proust, ou de Kafka, ou de Machado de Assis? Seria olhado com desprezo, mesmo pelas pessoas que nunca leram Proust, nem Kafka, nem sequer Machado de Assis. E se ele falasse ainda que não gosta da Mona Lisa ou que detesta Bach. Não é preciso dizer mais nada, seria considerado ignorante, alguém incapaz de apreciar arte de qualidade, porque a indústria cultural nos induz a pensar de uma maneira determinada.
Mas qual é o aspecto determinante da indústria cultural? O livro esclarecer que "sua força motriz, a princípio não tem nada a ver com a qualidade ou mesmo a natureza das coisas, porque essa força motriz é econômica: qualquer que seja o conteúdo a ser veiculado, o mais importante é que ele gere lucro, que leve à acumulação de capital".
O livro foi organizado por Fábio Durão, professor do Departamento de Teoria Literária da Unicamp; Antonio Zuin, professor associado do Departamento de Educação e do Programa de Pós-Graduação da UFSCar, pós-doutorado em Filosofia da Educação na Universidade de Leipzig; e Alexandre Fernandes Vaz, professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSC.
A obra traz textos de acadêmicos brasileiros e estrangeiros, historiadores, filósofos, psicanalistas e educadores, além de prefácio de Wolfgang Leo Maar. Dividido em quatro partes, o livro aborda questões como as implicações teóricas do conceito de indústria cultural, sua relação com o psiquismo, literatura como campo de resistência e educação.