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A rosa de Gertrude Stein - por Isabel Furini

18 out 2019 às 22:58

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"Uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa”. Esse verso é o mais citado quando se fala de Gertrude Stein. Alguns emparentam a pedra no caminho de Drumond à rosa de Gertrude. A frase foi analisada de diferentes pontos de vista. O enunciado pode estar falando de uma mulher chamada Rosa e enfatizar que ela é uma rosa, no sentido simbólico de beleza. Mas também pode sugerir que uma rosa é na essência, uma rosa. Ou seja, uma rosa não deve ser adjetivada.

Amigo de Gertrude Stein, Pablo Picasso, um dos fundadores do cubismo, pintou um retrato de Gertrude revelando a influência das máscaras africanas – essa influência se tornará mais visível em quadros pintados a partir de 1907, como por exemplo, na pintura "Les Demoiselles d'Avignon”. Um elemento importante do cubismo são as múltiplas perspectivas. Talvez essas múltiplas perspectivas estejam implícitas na sentença: "Uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa”, ou seja, de qualquer ângulo que uma rosa seja observada sempre será uma rosa.

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Parmênides de Eleia, o filosofo e poeta… sim, poeta porque Parmênides escreveu sua obra "Da Natureza” em versos hexâmetros (forma tradicional da Poesia grega). Lembremos que Homero também escreveu seus livros em versos hexâmetros. Parmênides atribuiu a sua obra à inspiração divina. No livro "Da Natureza”, Parmênides define o Ser dizendo: "O Ser é”. Isso pode parecer uma redundância, mas revela sua visão filosófica.

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Analisemos a frase: "O Ser é”. Para Parmênides a frase é completa e precisa de nenhum adjetivo. Porque se dizemos que "o Ser é bom”, "o Ser é luz”, "o Ser é perfeito”, qualquer esclarecimento, qualquer qualidade que possamos acrescer à frase "O Ser é”, fará descer o Ser para o mundo do existir. Ou seja, ao dizer "o Ser é bom” estaríamos rebaixando o Ser para o mundo das formas, para o mundo da existência condicionada. Por isso só é possível dizer "O ser é”. Pleno e completo em si mesmo, o Ser não precisa de argumentações (pois as argumentações fazem que o Ser desça para o mundo do devir).

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Assim como a rosa, de qualquer ângulo que o observador a veja, é uma rosa, também o Ser é sempre o Ser.
Voltando à rosa de Gertrude, intuitivamente ela percebe que "uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa”, ou seja, ela percebe a rosa na sua essência. A rosa na sua essência é uma rosa, e nada pode ser dito para acrescer elementos à sua essência. Substancialmente uma rosa é uma rosa.


Essa observação "uma rosa…" tem sonoridade e revela o cerne dessa palavra. Ao dizer "rosa”, a mente associa os dados dos sentidos: imagem, cor, e também desperta emoções. Gertrude utilizava a repetição de palavras e sons para destacar e fixar a atenção.

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Em "Cubismo e Fluxo do Pensamento em Gertrude Stein”, Daniella Aguiar e João Queiroz, assinalam: "Pode-se afirmar que trata-se da iconização da atenção consciente experimentada na escritura, o objeto representado, no que ela possui de qualidade mais exemplar (continuidade e mudança) – da fragmentação metonímica do cubismo analítico de Picasso (...)”


A repetição das palavras em Gertrude Stein, pode dar um resultado semelhante ao koan utilizado no Zen Budismo. Uma maneira que a mente deixe a linearidade de lado e explore novas possibilidades.


A Poesia possui, como as fadas dos contos infantis, uma varinha de condão, uma varinha mágica com o poder de modificar a percepção do mundo. E quando uma palavra é repetida em um poema, adquire um valor especial. O leitor se torna espectador dessa palavra, ou pesquisador. Alguns leitores, quando uma palavra se repete várias vezes em um poema, tentam entender o valor dessa palavra pesquisando sua etimologia e seu uso em outros textos. O verso "uma rosa é uma rosa uma rosa uma rosa”, publicado há mais de um século ainda comove, desperta o interesse do leitor. Parafraseando Gertrude podemos dizer que "um poema é um poema é um poema é um poema”.

Isabel Furini
Presidente da AVIPAF
Cadeira: 1


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