As mensagens do poema "Instantes" são belíssimas, mas parece que foi escrito por Nadine Stair. Outros afirmam que existe uma publicação desse poema nas Seleções do Reader's Digest, de outubro de 1953, do escritor e humorista Don Herold (1889-1966). Acho que, como humorista, ele deve estar rindo no céu, vendo a confusão que seu poema foi capaz de causar nesta Terra.
Abordei o assunto porque uma pessoa - também poeta - disse-me que, para ela, o poema era de Borges, e que havia uma confabulação para ocultar seu arrependimento da forma como havia vivido. A verdade é que todos estamos arrependidos de alguma coisa – ainda que nem sempre o confessemos. Morrer é fechar o livro, sabendo que não poderemos escrever nem mais uma linha.
Enquanto somos jovens, a luta pela vida nos arrasta como um maremoto, mas com os anos, declinamos de muitos de nossos sonhos e lutas.
Pensar que Borges poderia ter refletido sobre o assunto... talvez. Isso não sei. Porém, acreditar que Borges pudesse ter sido o autor desse poema repetitivo, sem metáforas, sem jogos linguísticos, sem pensamento crítico, sem o estilo borgiano, é um pouco de ingenuidade.
A viúva do escritor, Maria Kodama, declarou que teve de ir à Justiça deixar registrado que o texto não era de Borges e que ela, como sua herdeira, se negava a receber os direitos autorais dele advindos.
Esclareço que eu gostei da mensagem, mas seria muito estranho atribuí-la a Borges. Instantes, de Nadine Stair, é um texto singelo, direto, com belas mensagens.
Lembremos que Borges afirmou: "Não criei personagens. Tudo o que escrevo é autobiográfico. Porém, não expresso minhas emoções diretamente, mas por meio de fábulas e símbolos. Nunca fiz confissões..."
Borges nunca gostou de elogios diretos. A um jornalista que o chamou "um dos grandes literatos de nosso século", Borges respondeu: "é que este foi um século muito medíocre".
Vamos ver a diferença de linguagem, de estilo e de postura, lendo um fragmento de um poema (verdadeiro) de Borges. Você estará de acordo comigo, os estilos são muito diferentes.
AS COISAS
Tradução de Ferreira Gullar
(...)O rubro espelho ocidental em que arde
uma ilusória aurora. Quantas coisas,
limas, umbrais, atlas e taças, cravos,
nos servem como tácitos escravos,
cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão muito além de nosso olvido:
E nunca saberão que havemos ido.