Assim subi mais um degrau do meu caminho...
Meu primeiro dia e de outros autores que fazem parte do projeto Escritibas Na Rua, fui frustrante! Já participei de muitos eventos de vender livros nas ruas, mas aqui em Curitiba foi a primeira vez e fiquei decepcionada. As pessoas daqui não se interessam pela literatura, ou talvez não se interessem por nada que esteja acontecendo fora do seu pequeno mundinho interior!
Foram pouquíssimas as pessoas que paravam e davam uma olhadinha nos livros. Parecia que éramos seres invisíveis!
Em determinado momento imaginei: Será que estou aqui? Seria isso um sonho?
Convidei os amigos das redes sociais, não apareceu um sequer!
Será que são amigos?
Os amigos fora da rede sociais também não foram!
Será que tenho amigos?
Quando cheguei na Boca Maldita, no centro de Curitiba, os autores do projeto estavam me esperando, descarregamos o carro e eu fui procurar um estacionamento. Achei um espaço livre na R. Clotário Portugal. Tive medo de deixar o carro. No momento que estava estacionando chegou à guarda municipal, tive que frear o carro senão atropelava os rapazes que tentavam escapar. Respirei fundo do susto, só então fui notar quantos rapazes ali eram dependentes químicos e estavam fazendo uso de drogas. Os dois guardas os encostaram-se ao muro, eu contei eram doze!
Por um momento fiquei ali imaginando se os pais daqueles rapazes os visem vendo naquelas condições, o que iriam sentir? Lamente: não quero jamais estar pele deles! Mas estava com presa, desci a rua quase correndo.
Quando voltei pegar o carro os mesmos rapazes estavam lá. Pensei em conversar com eles para ver se podia ajudar, para que eles saíssem desse mundo sórdido. Estava com medo.
Um deles se aproximou e pediu um trocadinho, pois havia cuidado do carro. Era um rapaz lindo, gentil! Mesmo estando num estado deplorável, todo sujo, com feridas nas mãos, barba e cabelos sem fazer e cheirando mal. Criei coragem e perguntei:
– O que você está fazendo com sua vida? Porque se odeia tanto? Andes que ele respondesse, outro se aproximou e perguntou, acendendo um cachimbo de craque. Assim na minha cara sem nenhum respeito.
– O que foi dona? – Fiquei com medo.
– Não é nada. Só queria saber qual satisfação que vocês têm em ficar aqui fumando isso? Ele me sorriu pode ver seus dentes pretos. Ele estendeu o cachimbo.
– Quer experimentar! Vai ter sensação maravilhosa, depois fica sinistro! – Me arrepiei estendi-lhe a moeda de um real e fui arrancando o carro.
– Beleza dona! Vai com Deus, bom final de semana.
Agora, escrevendo, percebo que eu também faço parte do povo curitibano - eu só tenho interesse pelo meu pequeníssimo mundinho insignificante!
Puxa! Estou transtornada! O que fazer para ajudar estes rapazes que estão morrendo lentamente ao se aprofundar no mundo das drogas?
Assim subi mais um degrau do meu caminho! Sempre aprendendo.
Rosalina Candida Carvalho é escritora, autora dos livros "Sarat (meu anjo)", "Estranha visão" e um livro de astrologia sobre "Sinastria".
Rosalina Candida Carvalho e alguns participantes do grupo Escribitas de Rua.