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Meus livros e os rapazes (dependentes químicos) - Crônica de Rosalina C. Carvalho

06 jul 2014 às 10:54

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Rosalina Candida Carvalho e alguns participantes do grupo Escribitas de Rua. -
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Assim subi mais um degrau do meu caminho...


Meu primeiro dia e de outros autores que fazem parte do projeto Escritibas Na Rua, fui frustrante! Já participei de muitos eventos de vender livros nas ruas, mas aqui em Curitiba foi a primeira vez e fiquei decepcionada. As pessoas daqui não se interessam pela literatura, ou talvez não se interessem por nada que esteja acontecendo fora do seu pequeno mundinho interior!

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Foram pouquíssimas as pessoas que paravam e davam uma olhadinha nos livros. Parecia que éramos seres invisíveis!

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Em determinado momento imaginei: Será que estou aqui? Seria isso um sonho?
Convidei os amigos das redes sociais, não apareceu um sequer!
Será que são amigos?

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Os amigos fora da rede sociais também não foram!
Será que tenho amigos?


Quando cheguei na Boca Maldita, no centro de Curitiba, os autores do projeto estavam me esperando, descarregamos o carro e eu fui procurar um estacionamento. Achei um espaço livre na R. Clotário Portugal. Tive medo de deixar o carro. No momento que estava estacionando chegou à guarda municipal, tive que frear o carro senão atropelava os rapazes que tentavam escapar. Respirei fundo do susto, só então fui notar quantos rapazes ali eram dependentes químicos e estavam fazendo uso de drogas. Os dois guardas os encostaram-se ao muro, eu contei eram doze!

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Por um momento fiquei ali imaginando se os pais daqueles rapazes os visem vendo naquelas condições, o que iriam sentir? Lamente: não quero jamais estar pele deles! Mas estava com presa, desci a rua quase correndo.


Quando voltei pegar o carro os mesmos rapazes estavam lá. Pensei em conversar com eles para ver se podia ajudar, para que eles saíssem desse mundo sórdido. Estava com medo.

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Um deles se aproximou e pediu um trocadinho, pois havia cuidado do carro. Era um rapaz lindo, gentil! Mesmo estando num estado deplorável, todo sujo, com feridas nas mãos, barba e cabelos sem fazer e cheirando mal. Criei coragem e perguntei:


– O que você está fazendo com sua vida? Porque se odeia tanto? Andes que ele respondesse, outro se aproximou e perguntou, acendendo um cachimbo de craque. Assim na minha cara sem nenhum respeito.
– O que foi dona? – Fiquei com medo.
– Não é nada. Só queria saber qual satisfação que vocês têm em ficar aqui fumando isso? Ele me sorriu pode ver seus dentes pretos. Ele estendeu o cachimbo.
– Quer experimentar! Vai ter sensação maravilhosa, depois fica sinistro! – Me arrepiei estendi-lhe a moeda de um real e fui arrancando o carro.
– Beleza dona! Vai com Deus, bom final de semana.

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Agora, escrevendo, percebo que eu também faço parte do povo curitibano - eu só tenho interesse pelo meu pequeníssimo mundinho insignificante!
Puxa! Estou transtornada! O que fazer para ajudar estes rapazes que estão morrendo lentamente ao se aprofundar no mundo das drogas?


Assim subi mais um degrau do meu caminho! Sempre aprendendo.


Rosalina Candida Carvalho é escritora, autora dos livros "Sarat (meu anjo)", "Estranha visão" e um livro de astrologia sobre "Sinastria".

Rosalina Candida Carvalho e alguns participantes do grupo Escribitas de Rua.
Rosalina Candida Carvalho e alguns participantes do grupo Escribitas de Rua.


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