Indígenas das tribos Kayngang de Apucarinha em Tamarana (região metropolitana de Londrina) e Queimados de Ortigueira (norte do Estado) bloquearam por cerca de duas horas a PR-445, na altura do distrito de Lerroville (zona sul) no início da tarde dessa quarta-feira (7) em protesto contra o PL do Marco Temporal, que altera o texto que discute se as demarcações de terras indígenas devem seguir esse critério de terras que já eram ocupadas pelos indígenas no dia da promulgação da Constituição Federal de 1988.
A proposta foi aprovada pela Câmara dos Deputados, tramita no Senado e estava na pauta do dia do STF (Supremo Tribunal Federal) com placar de 2X1 contra o Marco Temporal até o ministro André Mendonça pedir vistas .
Os indígenas atearam fogo em galhos e pneus e bloquearam por volta das 14h45 os dois sentidos da rodovia estadual, mas os manifestantes deixaram passar veículos oficiais como ambulância e carros da Polícia Rodoviária Estadual. Desde o início do protesto apenas uma caminhonete furou o bloqueio, mas os demais motoristas respeitaram a manifestação. A saída de veículos pelo trevo de Lerroville também está interrompida pelo protesto.
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Os povos indígenas das duas tribos querem chamar atenção para as perdas dos direitos que podem ser provocadas com a mudança no marco temporal.
Em entrevista à FOLHA, o coordenador de grupos de dança e guerreiros da aldeia, Claúdio Novev Marcolino Paulino, diz que a alteração preocupa a população indígena em todo território nacioanal. "A nossa população está aumentando e as terras diminuindo. A gente quer a demarcação das nossas terras e está cada dia ficando pouco para nossa gente. Queremos mais respeito aos povos originários. Essa mudança é mais um genocídio contra nossa gente."
O protesto foi marcado por rituais, música e danças dos povos originários que atraíram a atenção de motoristas que ficaram presos no longo congestionamento. Orações na língua nativa foram feitas com pedidos para que os ancestrais pudessem interceder pelos parentes que estão em Brasília contra o Marco Temporal no Supremo Tribunal Federal.
Na quarta-feira, o STF retomou o julgamento que discute se as demarcações de terras indígenas seguirão o critério estabelecido pelo Marco Temporal, até ser novamene suspenso por novo pedido de vistas. O julgamento começou em 2021, mas a análise do tema foi interrompida em 15 de setembro do mesmo ano.
Apoio de quem está por dentro, descontentamento de quem desconhece
Retornando de Curitiba para Londrina, Dione Lolis e Marina Lolis, mãe e Filha, foram surpreendidas pela manifestação no trevo de acesso da PR-445 para Lerroville. “No início, achamos que era algum acidente, porque vimos a fumaça mais longe e a ambulância passando. Tentamos desviar, mas descobrimos que era a manifestação”, disse Marina.
Para Dione, a manifestação dos povos indígenas contra o PL 490 é legítima. “Acho que não dá para [deixar] passar. Este é o tipo de manifestação que não podemos deixar passar. Vamos aguardar [o fim do protesto]”, diz.
Vindo de Cascavel, o representante comercial Nei Assis seguia de Londrina para Tamarana na expectativa de prospectar mais clientes e, em seguida, pretendia ir para São Paulo continuar o trabalho na sexta-feira.
Também surpreendido, buscava informações sobre o protesto dos caingangues à beira da rodovia. Ao ser informado do motivo, considerou: “Quem tinha de resolver isso é o governo [federal]. Deviam resolver em brasília, mas vão ‘engavetando’ até ‘estourar’ no Brasil todo. Assim, atrasa nossa vida e o Brasil fica estacionado. Como querem gerar riqueza?”, questiona.
De uniformes laranjas, dois funcionários do DTW, o consórcio que executa a duplicação da PR-445, acompanhavam a manifestação dos kaingangues de celulares nas mãos. “Nunca tínhamos visto, mas estamos filmando para mostrar que estamos presos aqui na rodovia”, afirma um deles – os trabalhadores não informaram os nomes.
Eles retornava para Mauá da Serra com o caminhão carregado quando foram pegos de surpresa pelo bloqueio. “Ainda não entendemos o motivo do bloqueio, mas estão atrapalhando a passagem”, disse o mais alto dos trabalhadores. Ao ser informado sobre o debate do marco temporal, concluiu: “Não sei se resolve algo bloqueando a rodovia aqui. Acho que deviam protestar em Brasília.”
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(Atualizado às 18h17)