No início do ano passado, os londrinenses ficaram estarrecidos quando a mídia começou a divulgar notícias de uma rede de exploração sexual de menores descoberta pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Na lista dos exploradores, figuravam pessoas influentes na cidade, entre eles, servidores públicos, políticos, empresários e advogados que, segundo o Ministério Público, usavam aliciadoras para contratar meninas entre 11 e 17 anos de idade para programas sexuais.
O caso repercutiu nacionalmente e é um dos mais emblemáticos envolvendo a exploração sexual de menores já registrados no município. Mas não é o único. Em maio de 2013, o advogado, ex-presidente do PV em Londrina e ex-assessor da Câmara Municipal Marcos Colli foi preso acusado de molestar e filmar diversas crianças de um bairro da periferia da cidade.
Situações como essas chocam pela notoriedade, mas outros casos de abuso e exploração sexual de menores acontecem diariamente na cidade e sequer são notificados. Para chamar a atenção da sociedade para o problema, entidades de atendimento a crianças e adolescentes de Londrina realizaram na manhã de ontem um ato público. Cerca de 500 manifestantes reuniram-se no Calçadão e seguiram em passeata até a Concha Acústica, onde aconteceram apresentações culturais e artísticas. A ação marcou o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, instituído em 18 de maio de 2000 pela Lei Federal 9.970.
"O que aconteceu no ano passado em Londrina foi assustador", disse a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), Magali Batista de Almeida, referindo-se à rede de exploração sexual desarticulada pelo Ministério Público em 2015. "A exploração sexual não tem classe social e não está só na periferia. Os pais precisam estar atentos aos seus filhos, percebendo como está o emocional dessas crianças para que isso não aconteça."
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O coordenador-geral da Associação Guarda Mirim de Londrina, Cláudio Melo, confirma a frequência com que ocorrem os casos de abuso e exploração sexual de menores. "A gente trabalha com crianças e adolescentes e, infelizmente, tem acontecido com frequência. Muitos casos acontecem dentro de casa. A gente precisa o tempo inteiro estar monitorando", disse ele. "As marcas são profundas, mas com muito trabalho temos visto muitas histórias com finais felizes."
A instituição atende 700 crianças e adolescentes da cidade, além dos distritos de Lerroville e Guaravera. Uma delas é Denise dos Santos Trindade, de 18 anos, que disse ter aprendido muito sobre abuso e exploração sexual na entidade. "Muitas coisas que não sabia que eram abuso eu aprendi lá porque eles mostram para a gente e falam da importância de denunciar. Felizmente nunca passei por isso, mas eles deixam a gente atento e, se acontecer, vou saber me defender."
DENÚNCIA
Quem suspeitar ou tiver conhecimento de casos de violência ou exploração sexual praticada contra crianças ou adolescentes pode formalizar a denúncia junto ao Conselho Tutelar, pelo telefone 125, ou no Disque Direitos Humanos, pelo número 100.