Até outubro, os últimos moradores do albergue da Casa do Caminho, uma das entidades beneficentes mais tradicionais de Londrina, precisam encontrar um novo lar. O contrato de aluguel da casa onde eles residem atualmente, localizada no bairro Aeroporto (zona leste), a duas quadras da sede da instituição, vence neste mês e não será renovado. Hoje, sete pessoas vivem lá e estão tristes com a certeza da mudança.
Segundo uma das fundadoras da entidade, Tânia da Silveira, as dificuldades em manter o albergue começou quando o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) entrou em vigor, em 1990. Na época, todos os abrigos estavam em desacordo com a nova lei e precisavam se adequar para continuar a receber verbas públicas. Para isso, era necessário construir casas-lares para abrigar pequenos grupos e não manter todos em uma mesma estrutura, como era a situação da Casa do Caminho, que chegou a atender 185 crianças no albergue e outras 60 que passavam o dia na instituição.
De acordo com Tânia, de 1995 para cá, o albergue deixou de receber crianças e todas as que já moravam ali foram sendo reencaminhados para a família de origem ou seguiam seu próprio caminho, após atingir a maioridade. Entre os sete que ainda permanecem no local está Paulo César Miguel, 17 anos, que mora ali com o irmão Wesley Antônio dos Santos, 19, desde que tinha cinco anos de idade. Paulo César mal conseguia falar sobre a mudança e afirmou que ainda não tinha pensado no que ia fazer. ''É complicado, a gente vai ver o que dá para fazer'', contou.
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De todos os moradores, apenas Jeferson Alves, 15 anos, está com a situação um pouco mais tranquila. A responsável pelos adolescentes na casa, Maria Luciana da Silva, conhecida com Sandra, pediu a guarda do menino. Mas mesmo assim ele não estava satisfeito. ''É meio chato fechar depois de tanto tempo'', justificou Jeferson que mora do local há 10 anos.
Tânia tem ainda outra questão para ser resolvida. Hoje, a sede da Casa do Caminho atende crianças de zero a seis anos na creche e oferece educação infantil de 1ª a 4ª séries. O local não deveria estar abrigando ninguém, mas há três deficientes mentais que moram na instituição em uma casa improvisada nos fundos do prédio. ''Não posso simplesmente deixá-los na rua'', ponderou. Dois deles têm família que, no entanto, não os quer de volta. ''Era preciso que o município construisse um lugar para essas pessoas'', solicitou.
A promotora da Vara da Infânica e Juventude de Londrina, Édina Maria de Paula, salientou que a principal filosofia do ECA é preservar o vínculo familiar, não separar irmãos, integrar as crianças e adolescentes em família substituta, caso não seja possível com a família original, e dar atendimento personalizado para pequenos grupos. ''Eles (os abrigos) ficaram destinados na época a dizer como iam atuar, especificando o regime de atendimento'', lembrou. Ela destacou que a Casa do Caminho não fez a readequação exigida pelo ECA e optou por ser uma creche.
A promotora lembrou que outras instituições, como o Lar Anália Franco, se adequaram e hoje funcionam com as casas-lares. ''Ela continua atendendo crianças e adolescentes''.