Londrina

Com posições diferentes, grupos se manifestam sobre o aborto

23 jun 2018 às 15:40

Buenos Aires amanheceu fria na última quinta-feira (14). Às cinco da manhã, milhares de pessoas – em sua maioria mulheres – se aglomeravam ao lado do Congresso Nacional argentino. Aguardavam o resultado da votação que, horas mais tarde, descriminalizaria o aborto na Argentina até a 14ª semana de gestação. A permissão legal também se estende aos casos de estupro, risco de vida à mãe e má formação do feto. O projeto levou às ruas manifestantes a favor e contrários ao aborto.
Nesta sexta-feira (22), os londrinenses também se manifestaram sobre o polêmico assunto com diferentes argumentos para defender ou refutar o aborto.

Em diversas cidades do País ocorreram manifestações a favor da legalização do aborto. Em Londrina, o ato foi realizado na rotatória da Avenida JK com a Higienópolis.


As mais de 150 pessoas que participaram das quase três horas de ato escreveram cartazes, discursaram a favor da causa e deram relatos. Era comum ver pessoas – em sua grande maioria homens – xingando e fazendo gestos obscenos às manifestantes ao passarem de carro.


De acordo com Meire Moreno, uma das organizadoras do evento, a manifestação tem como pauta principal a legalização do aborto gratuito e seguro. Outros pontos defendidos são a educação sexual nas escolas para tratar de temas como quando engravidar e uso de contraceptivos.


Segundo Meire, as mobilizações serão mantidas em todo o País até que as pautas sejam atendidas. "Por ano, mais de um milhão de abortos clandestinos são realizados no Brasil. A maioria das mulheres que morrem são pobres e negras."


Para ela, as leis que restringem o aborto não impedem que mulheres recorram ao procedimento. "Na verdade, essas leis fazem com que as mulheres fiquem com medo de procurar ajuda e assim morram tentando procedimentos em lugares insalubres e de maneira arriscada."


Ainda de acordo com Meire, o país vive um momento de conservadorismo muito forte. "A legalização do aborto não é uma questão de crença e nem de opinião. Ninguém deseja que as pessoas façam o aborto. O que a gente quer é que as mulheres parem de morrer tentando fazer aborto. O dogma de uma igreja não pode servir como referência para fazer virar lei já que as pessoas que têm religiosidades diversas", opinou.


Bruno Nomura/Divulgação


Para a estudante Gabriela Placidino, a importância de se fazer manifestações é levar informações para esclarecimento das pessoas. "Eu apoio porque tenho dados, eu sei o que acontece, não é só acreditar."


No Brasil, o aborto só é permitido em casos de gravidez resultante de estupro, quando há risco de morte para a gestante e quando o feto é anencéfalo. De acordo com o artigo 124 do Código Penal Brasileiro, escrito em 1940, o aborto é considerado um crime contra a vida, com pena prevista entre um e três anos de prisão, caso seja provocado pela própria gestante ou com seu consentimento.


De acordo com dados da ONU, em 130 países dos 165 analisados, a interrupção da gravidez é permitida apenas quando a saúde física e psíquica da mãe está ameaçada. Somente um terço desses países leva em conta a situação econômica e social da mulher para que se permita o aborto.


Formada em Relações Públicas e Serviço Social, Nayara Damião fez sua pesquisa de mestrado sobre o aborto no cotidiano de trabalho das assistentes sociais. Segundo ela, o aborto é uma realidade no mundo todo, sendo legalizado ou não. "No Brasil, as mulheres que têm dinheiro abortam de maneira menos insegura, em clínicas minimamente higiênicas. Quem morre são as pobres e negras, que não tem condições de pagar por esse atendimento."


Sobre a atual situação do debate, Nayara acredita que há pouco avanço. "Tem uma grande força conservadora tentando regredir aquilo que já foi conquistado. Como por exemplo a PL 5069 em 2013 e a PEC Cavalo de Troia. Precisamos abrir o diálogo sobre o assunto. Hoje, vemos o contrário, a censura e a recusa em falar sobre aborto, o que só acarreta em mais mortes de mulheres."


TERÇO PELA VIDA


Também nesta sexta-feira (22), a Paróquia Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos, na avenida Tiradentes, um terço "em prol da vida" no mesmo dia em que as manifestantes a favor do aborto se reuniram na avenida JK.


Segundo Gabriela Rossetto, uma das organizadoras do evento, o objetivo do terço é "não somente uma movimentação cristã, mas também apresentar e ensinar o valor do ser humano, tão deturpado pela sociedade, independente de sexo, religião ou crença". Antes do terço, Gabriela e as outras organizadoras fizeram uma breve introdução falando sobre aborto.


Gabriela diz que a legalização do aborto é apresentada como uma solução para um problema, quando, na verdade, gera outros. "Retirar um bebê do ventre da mãe não gera mais creches, empregos, capacitação profissional e muito menos livra as mulheres de relacionamentos abusivos. Contudo, contribui para que elas fiquem reféns de traumas psicológicos e físicos." Além disso, ela também defende que a legalização do aborto não garantiria a assistência necessária às mulheres depois da retirada do feto. "A saúde pública brasileira é caótica em todos os sentidos. A precariedade do serviço público não será diferente com a legalização do aborto."

Além do evento, Gabriela diz que será criada uma página no Facebook na qual mulheres poderão ter acesso às informações sobre aborto para motivar a continuidade da gravidez.


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