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Feliz Páscoa

Como diferentes religiões celebram a Páscoa? Líderes religiosos explicam

Josiel Aparecido* e Natã Cordeiro* - Estagiários do Portal Bonde
31 mar 2024 às 06:30

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- páscoa cruzes
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Embora tenha ligação intrínseca com o cristianismo, a Páscoa no Brasil é abertamente celebrada, dando motivo até mesmo para um feriado nacional, a Sexta-Feira Santa. E, embora as tradições em casa estejam muito ligadas a almoços com receitas que incluem bacalhau ou outros pescados mais acessíveis e a troca de chocolates, seja em formato de ovo ou não, para os seguidores de Jesus Cristo, a celebração recorda a Paixão, quando ele dá sua vida pelos pecados do mundo, e a ressurreição, a superação da morte, fato em que se calça toda a fé cristã.


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Porém, como religiões de outras matrizes compreendem esta festa? É o que alguns líderes religiosos de Londrina explicam para os nossos internautas.

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Judaísmo e o êxodo do Egito

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Apesar de a Páscoa, no Brasil, ser celebrada com base na fé cristã, ela teve origem no judaísmo, que também ajudou a moldar o cristianismo. Presidente da comunidade Brit Bracha Brasil, o rabino Charton Baggio Scheneider diz que a Páscoa (Pesach, em hebraico) é a mais importante festividade judaica da primavera. Nela, os judeus celebram a liberdade e a família, enquanto recordam o êxodo do Egito, há mais de 3.000 anos.


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De acordo com Scheneider, as principais observâncias deste feriado giram em torno de uma cerimônia familiar especial chamada de Seder (ordem, em hebraico), que inclui uma refeição festiva, a proibição de comer chametz (alimentos que contenham fermento) e  de se comer a matzá (pão sem fermento).


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No 15º dia de Nisan, no calendário hebraico (que, neste ano, cai nos dias 22 e 23 de abril), os judeus se reúnem com a família e amigos à noite para ler um livro chamado  Hagadá, que significa "contar", que contém a ordem de orações, rituais, leituras e canções para a Páscoa. 


"A Hagadá nos ajuda a recontar os acontecimentos do Êxodo, para que cada geração possa aprender e lembrar esta história que é tão central para a vida e a história judaica", explica.

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A umbanda e sua ligação com o cristianismo


O Pai Luiz Fernando Souto de Camargo, do Centro de Umbanda Congá da Tia Maria, explica que a Umbanda tem uma junção com o espiritismo, candomblé e principalmente com o catolicismo. Assim, como a religião católica celebra a ressurreição de Jesus Cristo, a Umbanda acredita também na doutrina católica. 

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"Acreditamos nas passagens bíblicas e na ressurreição de Jesus Cristo e comemoramos a Páscoa assim como os católicos. Reunimos em família, trocamos chocolates, igual à tradição. No meu terreiro, no dia da páscoa, não tem nenhuma ritualística específica. Já na Sexta-Feira Santa, a entidade Tia Maria Mineira ''Preta Velha'' vem e incorpora no medium [que sou eu, o pai de santo] para servir para os filhos da casa o peixe, pão e o vinho. É um ritual parecido com o catolicismo'', ensina o pai de santo.

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Islamismo e os costumes locais


Presidente da Sociedade Islâmica de Londrina e do Norte do Paraná, Nasser Nasser comenta que a comunidade islâmica respeita o feriado cristão da Páscoa, mas, por ser um feriado cristão, ele não é celebrado pelos muçulmanos. ''Nós felicitamos a todos os cristãos pelo significado da Páscoa, mas não comemoramos, porque, para os muçulmanos Jesus Cristo não ressuscitou, ele ressuscitará apenas no dia do juízo final. Jesus é o Messias para o islã, é um profeta de Deus'', diz.


Nasser também explica que as sextas-feiras são dias sagrados para os muçulmanos e que, assim, coincide com o dia da Paixão de Cristo. ''Na sexta sagrada, os muçulmanos se encontram nas mesquitas e praticam oração em grupo. As sextas para os muçulmanos são como o domingo santo para os cristãos e, nesta sexta (29), por coincidência com a Sexta Santa dos católicos, houve o dia sagrado na mesquita."


Em relação aos costumes comerciais e pagãos relacionados à data, Nasser afirma que os seguidores do islamismo no Brasil acabam seguindo os costumes culturais. ''O domingo de Páscoa é um dia normal para nós. Presenteamos as crianças e amigos com ovos de páscoa, mas, por ser uma questão cultural do Brasil e pelo fato do país ser predominantemente cristão. Mas, religiosamente, em países de maioria muçulmana, não se presenteia com ovos de páscoa e não há comemoração'', finaliza.


A base da fé dos cristãos protestantes-evangélicos


O presidente do Cpel (Conselho de Pastores Evangélicos de Londrina) e diretor do Seminário Teológico ISBL, professor Vanderlei Frari, explica que, no universo protestante-evangélico, a Páscoa representa uma data muito importante, que até mesmo supera a do Natal. "Isto porque temos por centrais os eventos aludidos nesta época do ano, a saber, a Paixão e a Ressurreição do Filho de Deus. Tais eventos são inestimáveis para a confissão cristã, no sentido de consolidar a fé da comunidade e transmitir ao mundo as mensagens do perdão dos pecados com base na morte vicária de Cristo e da esperança na vida eterna, através da ressurreição do corpo."


Frari também ensina que, apesar da ênfase na Paixão de Cristo - "evento que revela a fragilidade humana em todas as suas dimensões e, portanto, nos inspira à solidariedade para com aqueles que carregam suas cruzes" -, os evangélicos colocam maior acento na ressurreição. "Na teologia cristã, a ressurreição é compreendida como a solução divina definitiva para a superação das limitações impostas pela presente ordem, bem como, para o enigma do mal no mundo. Cristo é o primogênito (primeiro) de muitos que, pelo mesmo processo de obediência, morte e ressurreição, serão libertos da vida limitada e limitante da condição terrena. Jesus foi o primeiro a experimentar a vida que não pode mais morrer e assim nos revelou aquilo para o qual estamos destinados", diz.


Para celebrar a Páscoa, os templos evangélicos promovem celebrações especiais que se iniciam na Sexta-Feira Santa e culminam no Domingo de Páscoa, mas, nem sempre foi assim, de acordo com Frari. "Num passado não tão distante, as igrejas costumavam celebrar cultos solenes, mais introspectivos, na sexta-feira, após o anoitecer, ou no domingo, antes do alvorecer. Atualmente, há uma gama de atividades, que vão desde cultos memoriais, cantatas, peças teatrais, corais, campanhas evangelísticas etc. Os evangélicos têm demonstrado uma criatividade muito grande nessas datas marcantes" afirma.


Já em relação ao costume de dar ovos de chocolates, nenhuma relação pode ser estabelecida com o cristianismo, do ponto de vista bíblico. Frari explica que a tradição dos ovos decorados remonta a antigas práticas pagãs, por meio das quais a fertilidade era celebrada com a chegada da Primavera. Então, o cristianismo, através de contato com outros povos, se apropriou dos símbolos de renovação que os ovos exprimiam e lhes atribuiu um sentido de renascimento. 


Além disso, a prática de dar e receber ovos decorados na Páscoa era bem vista pelos cristãos, pois estimulava a fraternidade entre as pessoas, diz o presidente do Cpel.


O Cristo ressuscitado e a origem do catolicismo


Primeira religião cristã a ser fundada, o catolicismo também tem como pedra angular de toda fé a ressurreição de Cristo na Páscoa. "Após a Sexta-Feira Santa, quando Jesus é crucifidado no calvário, imediatamente os primeiros discípulos pensaram que o projeto estaria acabado. Mas, três dias após, Jesus resuscita glorioso", explica o vigário-geral da Arquidiocese de Londrina, padre Rafael Solano, em relação á importância da celebração para o cristianismo.


Ele recorda que a Páscoa tem raízes na caminhada do povo de Israel ao deixar o Egito, onde eram escravizados, para uma nova terra livre. "Mas, agora, Cristo é a Páscoa. Não precisamos mais atravessar o Mar Vermelho, porque Cristo está vivo, Cristo é a fé, é o que nos leva a acreditar na esperança cristã. Cristo está ressuscitado, este é o centro da nossa fé. Não precisamos mais de carneiros, nem de bodes, nem de nada que utilizavam os judeus [como forma de agradecimento], porque agora o próprio Deus está vivo no meio de nós, vencendo todas as correntes da morte", afirma. 


O ritual pascal para os cristãos começa com a proclamação da fé no querigma, que teve origem na apresentação de Cristo pelos apóstolos em pesquenas mensagens para a conversão dos judeus pagãos. "A partir da Quinta-Feira Santa, com a missa do Lava Pés, com a adoração e a insiprição do sacramento da ordem, nós iniciamos uma nova caminhada. Na sexta-feira, adoramos a cruz, como um sinal visível do reconhecimento da morte de um justo, Daquele que nunca pecou e se entrega por todos nós, pecadores. E, assim, esperamos o primeiro dia da semana, que é o domingo, alegremente, a chegada da Páscoa. Então são essas três celebrações, a insiprição da Eucaristia na quinta. Na sexta, no reconhecimento da paixão de Cristo, e a celebração da ressurreição no domingo. 


Já em relação aos costumes comerciais da época, padre Solano diz que a Igreja não tem nada a dizer. "Isso não pertence à nossa tradição, isso não tem nada a ver com a fé na Páscoa do Cristo ressuscitado. Realmente, não faz sentido nenhum, não existe nenhuma conexão. Se um católico traz ovos e acredita no coelho da Páscoa e essa coisa, está completamente, como dizemos no Brasil popular, "pirado", não? Para nós, a Páscoa é o centro da nossa fé em Cristo. Não tem nada a ver com ovos, não tem nada a ver com procurar cenouras e pegadas de coelhos, nada disso."


(*Sob supervisão de Luís Fernando Wiltemburg)

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