O conflito entre facções rivais e que resultou na morte de três pessoas no Jardim Ouro Branco e no Parque das Indústrias (zona sul) na tarde de sábado (16) piorou o clima de insegurança que os moradores da região sentem há anos. No dia seguinte ao episódio dos tiroteios, a reportagem voltou ao local dos assassinatos e tentou conversar com os moradores.
Quase todos eles se limitaram a atender pela janela entreaberta e, mesmo assim, poucos deles se dispuseram a conversar com a reportagem. Uns alegavam que não tinham visto nada. Os que viram algo, recusaram-se a relatar algo com medo de alguma represália por parte dos bandidos. Esse clima de medo se espalhou pelas ruas dos dois bairros.
Na praça da Rua Crisântemos, no Parque das Indústrias, que foi palco dos tiroteios, não havia ninguém. Apenas uma garrafa de vodca quebrada estava perto do banco em que Cláudio Crispim, 36, estava quando foi baleado no sábado (16). Ele morreu a caminho do hospital.
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Um dos moradores das imediações, que pediu para não ser identificado, destacou que estava dentro de casa quando ouviu os tiros. Ao sair, ele destacou que havia quatro pessoas sentadas nesse banco de praça, que fica em frente à Rua Crisântemos, e uma moto teria desferido vários disparos. Mais de 20 disparos teriam sido desferidos.
"Uma pessoa que estava em uma motocicleta prata voltou para averiguar se a pessoa tinha morrido mesmo. O duro é que durante o tiroteio havia muitas crianças na praça. Elas fugiram e deixaram a bicicleta e a bola para trás", relata.
Depois dos disparos, algumas das pessoas fugiram e, mesmo feridas, pularam muros e portões e entraram na casa de alguns dos vizinhos da praça.
Na casa da Rua dos Gerânios que ficou com o muro cheio de buracos com os disparos feitos pelos criminosos, a reportagem tentou entrevistar a moradora, mas a conversa foi brutalmente interrompida. "Mãe, a senhora não sabe de nada. Não fale nada com eles", disse um jovem ao fechar o portão. No local, morreu o rapaz Victor Hugo Santana dos Santos, de 20 anos, conhecido também como "Vitinho", que já possuía passagem pela polícia.
Polícia tem suspeitos
O delegado-chefe da 10ª Subdivisão Policial de Londrina (10º SDP), Osmir Ferreira Neves Junior, destaca que está perto de elucidar a autoria dos homicídios. "Na verdade é uma desavença entre pessoas com passagens policiais. São moradores da zona norte e sul da cidade e essas mortes são decorrentes de outras que aconteceram ao longo deste ano, no primeiro semestre. Agora é um contexto de produção de provas. Nós já temos um indicativo de autoria. Somente a vendedora de pães que estava próximo do local do tiroteio não tinha nada a ver com os fatos", destaca.
Comoção marca velório
No velório de Maria de Fátima Nascimento Moraes, de 57 anos, a vendedora de pães que foi atingida por uma bala perdida e morreu na hora, seus parentes estavam inconformados com a perda da forma como ela aconteceu.
Nenhum deles se dispôs a conversar com a reportagem, mas sua amiga Maria Célia da Silva Moreira, 52, técnica em enfermagem, quis deixar um relato. "Ela era uma pessoa maravilhosa. Se eu fosse definir, era uma boa mãe, trabalhadora, uma boa amiga. Ela vendia pães há muitos anos", relembra.
Moreira recebeu a notícia da morte da amiga em sua casa. "Sobre a violência aqui na nossa região eu vou te dizer que todos estão na chuva e todos estão com medo de se molhar. A nossa esperança está em Deus. Que Ele nos livre e nos guarde e proteja a gente e nossos parentes."