Entre 2017 e 2021, Londrina, Cambé e Ibiporã registraram a maior taxa de letalidade policial do Paraná. Dados do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público do Paraná, mostram que, nas três cidades, forças de segurança formadas pela Polícia Militar, Polícia Civil e guardas municipais foram responsáveis por 230 mortes nos últimos cinco anos. O número corresponde a 13,4% dos 1.706 casos contabilizados em todo o Estado no período.
Na versão oficial, as mortes aconteceram em supostos confrontos com suspeitos e os disparos foram necessários para defender a integridade dos agentes de segurança. Por trás de cada número, no entanto, há uma família que ao mesmo tempo em que vive a dor da perda, se mobiliza para que os casos não sejam arquivados pelas autoridades competentes, relata falta de transparência nas investigações e narrativas marcadas por contradições.
Na manhã desta terça-feira (2), data em que se comemora o Dia de Finados, familiares de pessoas mortas pela polícia se reuniram em uma manifestação em memória de seus entes queridos, mas também para reivindicar maior rigor na apuração dos fatos e quando comprovada a conduta irregular dos policiais, que os responsáveis sejam punidos. O ato, organizado pelo movimento “Justiça por Almas – Mães de Luto em Luta”, começou às 9 horas, com a concentração dos participantes no estacionamento do Zerão. Às 10 horas, eles seguiram a pé até o Cemitério São Pedro, na avenida Juscelino Kubitschek, onde permaneceram por mais de uma hora, do lado de fora, em um protesto silencioso.
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Os manifestantes carregavam faixas, balões negros e distribuíram panfletos nos quais explicavam a motivação da mobilização, pediam por justiça e tentavam conquistar o apoio da sociedade.
Entre eles, estavam José Valentim Colly e Liliane Furlan Colly, pai e irmã de Angelo Gabriel Colly, morto em 20 de janeiro de 2022, aos 25 anos, pela polícia militar. Segundo os familiares, no dia da morte, policiais passaram diversas vezes em frente à casa onde Gabriel vivia, no jardim Leonor (zona oeste). Por volta das 23 horas, o rapaz saiu para ir dormir na casa da namorada e, no caminho, foi morto a tiros de fuzil. Os policiais alegaram confronto, mas Liliane e o pai contestam essa versão e afirmam que Gabriel não estava armado. “Eles mesmos julgam, eles matam, o julgamento é deles”, disse Liliane. “Os policiais fazem o que querem. Não respeitam a família de ninguém. Simplesmente chegam e matam e depois falam que é confronto”, afirmou José Valentim, que diz estar certo de que há um grupo de extermínio em Londrina. “E os delegados não fazem nada porque têm medo deles.”
O caso, disse a irmã de Gabriel, foi arquivado por falta de provas. Liliane e o pai buscaram ajuda na Corregedoria-Geral da Justiça, enviaram cartas ao órgão, mas o caso não avançou. “É muito revoltante. A gente sabe que não houve confronto, mas vai pedir ajuda para quem, onde? Dá uma sensação de impunidade, injustiça. Gera muita dor. Não é só a dor do luto. Minha mãe está com um monte de problema de saúde que veio da parte emocional. Meu pai e eu, também”, desabafou Liliane.
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