Em várias regiões de Londrina, ver pessoas em situação de rua pode levar as pessoas a refletirem sobre questões sociais, políticas e econômicas. O que levou essas pessoas a estarem nas ruas é um questionamento comum. De acordo com a Secretaria Municipal de Assistência Social, o perfil dos moradores de rua é de maioria do sexo masculino, com idade de 20 a 40 anos. Desde 2009, ano da realização do último senso, o número de pessoas que vivem em condições de vulnerabilidade aumentou. Segundo o município, o número já passa de 500.
Ao mesmo tempo, várias atividades são realizadas, tanto para evitar, como para solucionar questões sociais desse âmbito. A reportagem conheceu três pessoas que vivem na rua.
Livre dos vícios, paixão por trabalho
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"Concluir os estudos e buscar uma vida melhor". Foi com esse objetivo que Manoel Messias Aguiar, 54 anos, diz ter migrado de Janaúba, Minas Gerais, para Londrina. Sem nenhum vínculo familiar na cidade, não sabe ao certo há quantos anos está sem documento, nem o ano em que decidiu pela extração de todos os dentes.
"Tenho só um B.O de quando perdi os documentos." Enquanto aguarda o jantar de um grupo de voluntários ser servido, tem vontade de conversar. "Sou reciclador, moro em uma casa improvisada perto do barracão e já trabalhei de porteiro, segurança, na construção civil, metalúrgico e no corte de cana."
Sem notícias da mãe, Manoel conta que mandou uma carta. "Acho que ela não mandou resposta porque não aceita minha atitude de ter ido embora". Livre de vícios, Manoel considera que os voluntários ajudam quem precisa. "Não cozinho em casa, não fumo cigarro e não uso drogas".
Aguiar diz que não quer outro trabalho. "Gosto do que faço, não gosto de ter patrão e nosso trabalho preserva o meio ambiente". Os estudos não tiveram continuidade. "Faltaram duas provas pra terminar o primeiro grau e enquanto meus pais tiveram um time de futebol inteiro, eu não tenho nenhum filho".
"Até meu celular eu fumei"
É em um outro ponto de distribuição de refeição que a reportagem conhece Claudio Aparecido, 37 anos. Diz que tem onde morar. "É um canto, pessoal de onde trabalho me deixa ficar lá." Natural de Londrina, soube por um grupo religioso que a mãe está preocupada com ele.
"Estudei até a 5ª série e usei craque por 20 anos. Eu estava bem, cheguei a ficar dois anos limpo porque fui me tratar, agora caí de novo." Com o salário que recebe como descarregador, Claudio diz que a maior parte é para o sustento do vício.
"Deixo de investir em mim, de comprar um tênis e até o meu celular, fumei", relata. Sobre esse universo, diz ter medo. "Já fiquei na rua e não conseguia dormir. Não dá pra confiar em ninguém e com tanta droga, só por Deus que muitos sobrevivem." O pai de Claudio é falecido, mas era funcionário público, a mãe ainda trabalha como faxineira. "Eu não posso colocar a culpa nos outros sobre meus erros", admite.
"Algumas pessoas olham pra gente como bicho"
Kaylla Toledo Mendes, 26 anos, está há dois meses na rua e atribui a uma desilusão amorosa o momento em que vive. "Meu marido foi embora, levou tudo e eu não consigo digerir isso. Fiquei muito revoltada e já me ofereceram ajuda para eu ir ao psicólogo, mas eu não consigo encarar a realidade e voltei a usar drogas."
Já passa das 13h, Kaylla ainda dorme debaixo de uma marquise no centro. Ganha uma pamonha salgada, desperta e diz que precisa conversar. "Eu preciso falar. Eu quero voltar para a minha casa, mas minha mãe me aceita desde que eu aceite tratamento." Despertada, diz que precisa de um café. Diz que não dormiu de noite. "Fiquei usando drogas. Foram quatro raios e três cracks", lista.
"Eu cuido de carro, nunca me prostitui, mas algumas pessoas olham pra gente como bicho e eu me sinto um lixo. Nunca me imaginei assim. Sinto falta dos meus perfumes, mas até meus pincéis, ele levou. Comecei a estudar Design de Moda, sou maquiadora profissional, mas hoje, como estou muito fragilizada, não consigo enxergar minhas qualidades e agora tô com um tique de roer as unhas."
Todos os dias, Kaylla diz que toma banho. "Ou no Centro Pop, ou na Copel." Natural do Mato Grosso, conta que fez crisma e primeira comunhão. "Conheço a palavra de Deus e gostaria que ao invés de julgar, as pessoas se interessassem pela minha história. Tenho minhas Barbies até hoje na casa da minha mãe e aos 10 anos ela já sabia que eu não me reconhecia como menino e sempre me amou assim."
Município trabalha para mudança de quadro
Conforme a diretora de Proteção Social Especial da Secretaria Municipal de Assistência Social, Josiani Nogueira, o uso abusivo de álcool e outras drogas é o principal motivo de adultos estarem vivendo nas ruas. "Já as crianças, o motivo é a violência doméstica." Das 169 vagas para abrigo, 80% são ocupadas por homens, e antes a maior parte era oriunda do interior de São Paulo. "Hoje é bem pulverizado e tendo em vista o respeito às necessidades e o direito de ir e vir, a Assistência Social é porta de entrada para uma política de assistência social."
Nogueira explica que práticas de despachar quem chega em uma cidade, para outra, são ilegais, passíveis de denúncia e puníveis. "Um assistente social pode perder seu direito ao exercício da profissão se assim agir", alerta. Por ano, a Secretaria dispõe de R$ 5,800 milhões ao ano para dar suporte às atividades. "Só Para o Centro Pop, são R$ 2 milhões e 800 mil. São atividades de higiene, alimento, encaminhamentos e documentação, terapia auricoloterápica e oficinas de educação. Entre os ganhos dessa gestão, destaca a criação da República, um espaço destinado a 10 pessoas que já superaram o uso de substâncias e recebem ajuda com água, luz e aluguel. Recebem R$ 250 ao mês. Outro mérito da atual secretária, a Nádia Moura, é a aproximação com a sociedade civil. Eles prestam um importante trabalho voluntário", afirma.
Serviço:
Serviço de abordagem social:[b/]
Segunda a sexta-feira, das 7h às 23h; sábado, das 9h às 20h; domingo, das 9h às 15h
Contato: (43) 9 9991-4568