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Dia do Nada

Um dia de papo pro ar

Redação - Folha de Londrina
05 mai 2003 às 19:43

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Levar a cama para a rua ou pescar em tanque sem anzol: ''atividades'' dos artistas que transformaram a segunda-feira em Dia do Nada - Karina Yamada
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Uma manifestação marcou nesta segunda o ''Dia do Nada'' em Londrina. Quem passou pelo centro da cidade ou pelo Lago Igapó encontrou algumas pessoas de ''papo pro ar'', descansando em redes, pescando e até cochilando numa cama.

Idealizado pelo artista plástico e colunista da Folha, Rubens Pileggi Sá, o ''Dia do Nada'' reuniu grupos que passaram a tarde na Praça Rocha Pombo, na Praça da Bandeira e às margens do Lago Igapó. O objetivo: exercitar o ócio como forma de provocar uma reflexão e oferecer uma proposta de resistência coletiva contra o trabalho individualista, mecânico, sem criatividade e desprazeroso. A manifestação seria realizada simultaneamente em Foz do Iguaçu, Rio de Janeiro, Recife e Macapá.

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A primeira edição londrinense do ''Dia do Nada'' aconteceu em 2002. Este ano, a data ganhou até um CD com trilha sonora original, composto especialmente pelo músico Tadeu Amélio. Além disso, os participantes buscaram suas próprias formas de fazer nada.

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Uma cama de solteiro, com direito a cobertor e travesseiro, foi posicionada no meio da Praça Rocha Pombo (batizada de ''Praça do Nadismo''), próxima a uma rede instalada entre árvores. Algumas pessoas pescavam com varas sem anzol na fonte seca. Outra ''enchia'' o tanque de concreto com um conta-gotas.

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O desempregado Ronaldo das Neves, 31 anos, acompanhava a tudo sentado em uma mureta. Ele também resolveu trocar um dia à procura de trabalho para se juntar aos manifestantes. ''Gosto de fazer nada. É importante também'', comentou o rapaz que mora em Ibiporã.


Um saco de mexericas posicionado no chão, no meio da praça, aguça o paladar do rapaz que pede uma fruta. A fumaça do defumador aceso para ''descarregar'' o ambiente também é notada. O trabalhador, apressado, passa sem olhar. Outros desviavam o rumo para não atravessar a manifestação. Os mais curiosos diminuem os passos para observar melhor. ''O que está acontecendo aqui?''. Tem também os que, disfarçadamente, puxam conversa e acabam entrando no clima. ''Você sabe que aqui, antes, era cheio de peixe de verdade. Carpa, tilápia... foi tudo retirado'', disse um cidadão.


Na Praça da Bandeira, o artista plástico Leonardo Benatto instalou um quadro que simboliza o nada. ''A moldura tem uma transparência que simboliza o nada constante nas ruas''. Já o artista Edson Massuci montou uma instalação intitulada ''Deposição de Armas''. ''É uma forma de dizer não à guerra, à violência, nada disso''. Cada um a sua maneira, outros cidadãos, sentados nos bancos espalhados pela praça, faziam um pouquinho de nada para passar a hora.

A comerciante Maria Aparecida Benevenuto, 57 anos, proprietária de um bar em Londrina, foi atraída pela manifestação ao passar pela Praça da Bandeira. ''Gostei disso aqui, chamou minha atenção. Eu detesto trabalhar na segunda-feira. É um dia de fazer nada. Por isso estou na rua''.


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