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Estátua viva

Um personagem e muitas interpretações na feira do Cincão

Fernando Almeida e Soraya Momim-Bonde Repórter Universitário
17 set 2012 às 10:40

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- Fernando Almeida e Soraya Momi
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Manhã de domingo, a feira do Cincão está lotada e as famílias compõe boa parte do público. As crianças, divididas entre o medo e a curiosidade, são as que mais interagem com a incomum figura que, com a pele pintada de preto e trajando sacos de lixo da mesma cor, realiza um contraponto com a agitação do local: é parada que ela transmite sua mensagem.


Os adultos, embora em um primeiro momento compartilhem da curiosidade e do assombro das crianças, imediatamente dão sua interpretação social ao fato: o homem que ali se apresenta como "estátua viva", em troca de algumas moedas que agradece com várias reverências e gentilezas, o faz por necessidade de sobrevivência, numa alternativa à mendicância. A princípio, uma conclusão com certa lógica, porém incerta.

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Além do retono financeiro, poderia esse artista de rua estar se apresentando por outro motivo? Desejando passar alguma mensagem? Embora possa soar um tanto utópico, a resposta é sim. Ao menos é o que garante o personagem Abstrato. Ele não representa um elemento definido, mas é um convite para que cada espectador, subjetivamente, faça sua interpretação. Muitos o relacionam com as catástrofes ambientais da atualidade, outros, com as angústias da vida moderna. Seu intérprete, José Moraes, 35, que há dois anos trabalha com performances estáticas, considera todas válidas, já que seu maior objetivo, como artista marginal, é ser politizado, contestando a atual ordem do país e das relações humanas.

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José Hindu, como é conhecido artisticamente, é ator teatral desde os 18 anos. Atualmente residindo em Curitiba, ele se divide entre as apresentações desse tipo de performance e os ensaios do monólogo "A dama da lotação", de Nelson Rodrigues, que apresenta em escolas. É um artista itinerante, que viaja por todo o Estado, mas que mantém algumas paradas fixas, como é o caso da feira, que costuma visitar a cada duas semanas. Sobre o local, sintetiza "junto ao Calçadão, é o espaço mais democrático de Londrina", revelando também seus planos de continuar a frequentá-la, no mínimo, pelos próximos dois anos.

Sobre as dificuldades da profissão, ele afirma que a falta de eficiência das políticas governamentais de incentivo à cultura é a maior. Porém, embora algumas delas possibilitem ao artista desenvolver seu trabalho com mais conforto e segurança financeira, nada é capaz de substituir o talento e a vontade de trabalhar. Assim, eventos como o Filo (Festival Internacional de Londrina), apesar de promoverem a cultura, ainda são bastante elitizados, sendo os artistas de rua os principais responsáveis por levar a arte à população em geral.

Um trabalho que exige muita dedicação, equilíbrio e concentração, o que, afinal, acaba por confundir-se com sua própria performance.


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