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Folha de Londrina

Vila Casoni é o melhor lugar do mundo

Fernando Rocha Faro
10 jul 2004 às 23:32

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Reinaldo Gonçalves e Miguel Gonsales: a Vila Casoni foi uma verdadeira reforma agrária - Karina Yamada
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''O melhor lugar do mundo para se viver é o Brasil. Dentro do Brasil, o melhor lugar do mundo é Londrina. E dentro de Londrina, o melhor lugar do mundo é a Vila Casoni.'' Desta forma, o pioneiro Osmar Olívio Kleber resumia o orgulho de viver em um dos bairros mais antigos e, ainda hoje, dos mais preservados e tradicionais da cidade. ''Meu pai sempre repetia esta frase'', relembra o comerciante Lauro Kleber, filho de Osmar Olívio, pioneiro que morreu dez anos atrás.
Ainda hoje, Kleber administra a Panificadora e Confeitaria Central, a mais antiga em atividade na cidade, que foi fundada em 1960 pelo pai e pela mãe Ernestina. Ser tradicional, no entanto, não é exclusividade do negócio da família Kleber. A despeito de ser próxima ao Centro da cidade, a Vila Casoni mantém características dos bairros tranquilos de antigamente, como a boa vizinhança e a segurança. ''As pessoas se conhecem muito, se cumprimentam, batem papo. Este ar de província é mantido. A gente costuma chamar as pessoas pelo nome e vice-versa'', salienta o comerciante.
Com prédios escassos, as antigas casas de madeira, com jardins na entrada, ainda predominam na paisagem das ruas estreitas da Vila Casoni. Casas comerciais antigas e tradicionais também permanecem firmes em atividade. No início dos anos 1930, no entanto, o espaço hoje ocupado pelo bairro era de características rurais. O loteamento foi feito pelo pioneiro Domingos Casoni, que comprou a área da Companhia de Terras Norte do Paraná e por dificuldades financeiras desistiu de montar uma granja para dividir e vender pequenos lotes urbanos, que deram origem à Vila Casoni, fundada em 1936.
''Hoje se fala muito em roforma agrária. Na época, o loteamento da Vila Casoni foi uma verdadeira reforma agrária. Havia diversos sítios, diversas chácaras, uma encostada na outra'', ressalta o serralheiro Reinaldo Gonçalves, que veio com o pai para Londrina em 30 de junho de 1950 e integrou a diretoria da Associação de Moradores do bairro por 17 anos. Para ele, a Casoni não é apenas um dos primeiros bairros da cidade, mas o pioneiro. ''Heimtal é o primeiro patrimônio, mas o primeiro bairro foi a Vila Casoni'', salienta.
Os primórdios da Vila Casoni também estão na memória do carroceiro aposentado Miguel Gonsales. Ele mora na mesma casa, na Rua Caraíbas, desde 1939. ''Antes, aqui era tudo terra e casa de madeira. A rua não tinha número, não tinha luz, não tinha água, não tinha nada'', relembra. A esposa de Gonsales é uma das poucas moradoras que carregam o nome da família pioneira. Zelfa Casoni Gonsales é sobrinha do ''desbravador'' Jorge Casoni. Gonsales destaca também as amizades que criou no lugar. ''Gosto muito daqui. Do bairro, do povo, dos vizinhos. A gente já é conhecido de todos aqui. A gente se acostumou com o povo'', destaca.
Uma das lembranças mais antigas dos moradores é a falta de asfalto nos primeiros anos do bairro. Somente as ruas principais eram calçadas com paralelepípedos. Havia dificuldade até mesmo para ir ao trabalho. ''A lotação ia somente até perto do bosque e quando chovia era um atoleiro danado. Praticamente só trator entrava'', destaca Gonçalves.
A preocupação dos moradores antigos do bairro, que era enfrentar a poeira ou o barro nas ruas do bairro, deu lugar ao trânsito agitado e à falta de segurança. A recente adequação do plano viário tencionou melhorar a qualidade do tráfego nas avenidas e ruas estreitas. Para o politizado ex-líder comunitário, as ruas deveriam ter uma fiscalização maior. ''Os motoristas correm muito nas ruas daqui. Deveria haver mais policiamento para fiscalizá-los'', cobra. O comerciante Lauro Kleber, no entanto, é mais ameno nas críticas. ''O asfaltamento tem muitos buracos e a iluminação é muito antiga. Já o plano viário foi uma boa, mas pode ser um pouco melhorado'', avalia.
Para os moradores, não apenas o trânsito intenso, mas a falta de segurança também tem contribuído para impedir hábitos antigos da Vila Casoni. As crianças, por exemplo, não têm mais liberdade para brincar nas ruas como antigamente. ''Na minha infância, tinha muitos campos de futebol e terrenos vazios por todo o bairro. Hoje as crianças não podem mais ficar na rua'', queixa-se Gonçalves. ''A violência não é tão grave como em outros lugares da cidade, mas já existe. De vez em quando, tem assaltos. Este aspecto negativo existe em todo lugar. A gente pode até considerar uma rotina, infelizmente'', opina Kleber.
Uma realidade bem diferente dos tempos de infância de Lauro Kleber. ''A molecada sempre brincava na rua à noite. Não tinha violência. Ainda existiam charretes, que levavam os pães de porta em porta e eram chamados de carrinheiros'', conta. Outra diversão garantida era o futebol, nos vários campinhos do bairro.
Como prova do sentimento de tradição presente entre os moradores, Kleber cita as encomendas de bolos de casamento. ''A padaria tem fregueses antigos. Tem pessoas que fizeram o bolo de casamento, depois dos filhos e depois dos netos aqui. Estas coisas são gratificantes'', orgulha-se.
''Uma senhora falou isto para minha mãe. A cidade que tem a Igreja virada para o nascer do sol progride. Realmente isto foi verdade. Ouvimos isto meio século atrás'', revela Reinaldo Gonçalves. Um progresso que, no entanto, não foi suficiente para descaracterizar o que era considerado pelo pioneiro Osmar Olívio Kleber como o melhor lugar do mundo para morar.
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