A doméstica Rosana Bitencourt, 21 anos, ficou feliz ao saber da reunião realizada nesta quinta-feira para discutir a possibilidade de implantação de um centro de tratamento para queimados em Londrina. Rosana tem dificuldades para tratar as queimaduras que sofreu ano passado e precisa viajar com frequência para Curitiba.
Desempregada e mãe de uma filha de apenas dois anos, Rosana depende de ajuda financeira para poder viajar à capital todos os meses para ser atendida pelo Hospital Evangélico de Curitiba, único centro especializado em queimaduras do Estado. ''Recebo passagens da (Secretaria de) Saúde, mas não tenho onde ficar lá. Uma vez, eu e minha mãe ficamos na rodoviária'', comentou a doméstica, que se envolveu em um acidente em que 45% do corpo foi atingido pelas chamas.
Em 3 de dezembro do ano passado, Rosana tentava esquentar a mamadeira da filha sobre uma lata com álcool, quando o fogo se espalhou, atingindo o lado direito do corpo. Durante 11 dias, ela permaneceu internada no Hospital Santa Casa em estado grave. ''Achei que a maior dificuldade foi sobreviver, mas agora sei que vai demorar muito tempo para minha vida voltar ao normal. Até lá, preciso de emprego para manter o tratamento e cuidar da minha filha'', disse Rosana.
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Outra vítima de queimaduras graves, ocorridas em junho do ano passado, foi o comerciante Ailton Abuquerque Júlio, 33. Um vazamento de gás provocou uma explosão no açougue da família, resultando na morte do empregado da empresa, Franklin da Cruz Gonzaga. Para Ailton Júlio, as marcas do acidente ficaram em 62% do corpo. O empresário foi transferido no dia seguinte para a ala de queimados do Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo (HC/USP), em
Ribeirão Preto (SP), onde permaneceu por 101 dias. Suas chances eram de 5%, mas ele conseguiu sobreviver.
Depois de quase um ano fazendo viagens constantes para o interior de São Paulo, veio a decisão em fevereiro: mudar para Ribeirão Preto e melhorar o tratamento. Apesar de aumentar os gastos ainda mais (só o aluguel custa R$ 600,00), ele se diz bastante esperançoso. ''O médico disse que se continuasse viajando, demoraria una quatro anos. Morando aqui, onde faço fisioterapia diária e tenho acompanhamento melhor, posso reduzir o tratamento em até dois anos'', disse Ailton, em entrevista à Folha por telefone.
Ao saber da reunião realizada nesta quinta, o empresário mudou o tom de voz. ''Está demorando demais. É vergonhoso uma cidade do tamanho de Londrina não ter uma unidade para queimados. Se tivesse, a gente voltaria automaticamente'', criticou Ailton, que levou a esposa, Telma, 31, e os filhos Lucas, de oito, e Gabriel, de apenas 4 anos.
O Hospital Evangélico de Curitiba oferece 35 leitos - 22 para adultos e 13 para crianças - mas terá que reduzir para 24 vagas devido a mudanças no credenciamento junto ao SUS. Em Londrina, três pessoas morreram vítimas de queimaduras desde junho do ano passado.