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MST

Acampamento lembra dez anos do massacre no Pará

Agência Brasil
16 abr 2006 às 21:06

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Memorial feito com troncos de madeira em homenagem aos 19 mortos - Agência Brasil
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Eldorado dos Carajás (PA) – "Alô ouvinte, estamos em Eldorado dos Carajás. Esta é a minha voz, a sua voz, a Rádio Resistência Jovem Camponesa", fala ao microfone o locutor Ronaldo Terra. Ele é um dos duzentos jovens do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que estão acampados na Curva do "S" da rodovia estadual PA-150, que liga a capital Belém ao sul do Pará.

O acampamento foi montado no início deste mês para lembrar os dez anos do confronto ocorrido em 17 de abril de 1996 envolvendo agricultores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Polícia Militar. Na ocasião, 19 trabalhadores rurais foram mortos e outros 69 ficaram feridos. O conflito ficou conhecido como o "Massacre de Eldorado dos Carajás".

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Desde então, o dia 17 de abril passou a designar o Dia Nacional da Luta pela Reforma Agrária. Também é celebrado pelo MST como o Dia Mundial de Luta pela Terra. Amanhã (17), os militantes acampados esperam receber o cantor Chico César e a atriz paraense Dira Paes. O presidente de honra do MST, Dom Tomás Balduíno, e representantes da coordenação nacional do movimento também devem comparecer ao local.

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Cada uma das 19 casas do acampamento traz uma placa com o nome de um dos mortos. ]Na Curva do "S" foi criado o Memorial ao Massacre dos Sem-Terras com dezenove troncos de árvores e uma placa com o nome das vítimas.

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A Rádio Resistência funciona todos os dias. "Ou melhor, só quando tem óleo para os equipamentos", diz Ronaldo Terra. Por meio da estação, explica o locutor, é feito um trabalho de "desmistificação" da imagem do MST mostrada na mídia, que "sempre banalizou o MST e marginalizou as lutas populares".


De acordo com ele, a emissora também exerce um um trabalho de "formação política e ideológica dos jovens". Formação que, segundo Terra, inclui música, teatro, produção audiovisual e análise das notícias sobre o MST que saem nos jornais.

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Por um instante, a triste memória do massacre dá lugar ao colorido das sementes de açaí, do pau-brasil e da palmeira jupati. O tingimento das sementes é um "segredo" que não é passado pra ninguém, conta a artesã Linda Santana, do MST.


Moradora de Belém, ela montou uma barraca no acampamento para vender os colares, os brincos e as pulseiras que confecciona. Maria Raimunda e o marido são militantes do movimento há dez anos. O casamento, conta, foi rápido. "Nos encontramos três vezes e no quarto encontro nos casamos", diz. Os dois cursam Agronomia na Universidade Federal do Pará (UFPA). Os estudos são custeados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e pelo governo federal. A renda da família, que tem um filho e está à espera do segundo, vem do artesanato e da venda de água de coco.

Ednalva Monteiro dos Reis tem uma venda na Curva do "S" há mais de dez anos, embora não faça parte do MST. Ela conta que não assistiu ao massacre, mas que sua mãe "fechou as portas e se enrolou com um colchão" para se proteger. Ainda hoje a casa tem as marcas dos tiros disparados.


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