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Bóias-frias sofrem duas vezes mais fome que sem-terra

Agência Brasil
04 mai 2007 às 15:47

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A reforma agrária tem um impacto positivo na saúde do trabalhador rural. A hipótese, que deixou o biólogo Fernando Ferreira Carneiro obcecado "por mais de dez anos", foi comprovada na prática por suas pesquisas para a tese de doutorado A saúde no campo: das políticas oficiais à experiência do MST e de famílias bóias-frias.

Para averiguar se sua idéia correspondia à realidade, Fernando Ferreira buscou um cenário em que eram vizinhos "um projeto de reforma agrária e um projeto de agronegócio". O município Unaí, noroeste mineiro, foi o local encontrado pelo biólogo. Lá, Fernando pôde comparar a qualidade de vida de bóias-frias que trabalham na lavoura de cana-de-açúcar com famílias de sem-terra, acampados de forma precária, e agricultores assentados pela reforma agrária.

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"Os próprios números comprovam que a segurança alimentar dos sem-terra é quatro vezes melhor que a dos bóias-frias", afirma. Em sua pesquisa, entrevistou 202 famílias desses três diferentes públicos. A pergunta era se alguém havia enfrentado dificuldades de alimentação nos últimos três meses. O resultado mostra que uma em cada dez famílias dos assentamentos rurais afirmava ter passado fome. O volume crescia para 20% no caso de pessoas que vivem em acampamentos. No caso dos bóias-frias, esse índice dobra: 40%.

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Nos acampamentos e assentamentos, a chave para a melhor alimentação dos trabalhadores é a diversificação da produção e o sistema de decisões coletivas. "A gente não pode deixar todo mundo produzir uma só coisa para depois ter de comprar alimentos", justifica Sérgio Oliveira Nunes, do Acampamento Índio Galdino.

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Já no cotidiano dos bóias-frias, não há diversidade da produção. Para dar conta de um dia de trabalho na monocultura canavieira, recorrem a alimentos gordurosos e ficam mais propensos a sofrer de hipertensão. Dores na coluna e estresse são outros problemas de saúde vividos por esses trabalhadores.


O convívio com agrotóxico é, também, causa de doenças, segundo agentes de saúde de Unaí. "Dentro do ônibus, o cheiro é forte e às vezes nem dá para respirar", relata o bóia-fria Geraldo Lourenço da Silva, 69 anos.

A pesquisa, segundo Fernando Ferreira, mostra a necessidade do governo federal fazer reforma agrária. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira (3) que a reforma agrária é uma questão inquietante, já que o governo não teria recursos para comprar a terra e dar condições adequadas de produção simultaneamente.


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