O turista brasileiro Felipe dos Santos, de 28 anos, teria morrido de frio após deslizar cerca de 600 metros e cair em uma cratera gelada de sete metros de profundidade, a cerca de 2 mil metros de altura, quando realizava uma excursão no Chile acompanhado de um grupo e de instrutores no vulcão Villarica, próximo a cidade de Pucón, na região de Araucania.
A informação foi dada à BBC Brasil pelo dono da empresa de turismo Patagônia Andina, Eugenio Benavente, e pelo diretor regional da Corporação Nacional Florestal do Chile (Conaf), Robert Leslie. O acidente ocorreu na quinta-feira (1º) e o corpo de Santos foi localizado na manhã deste sábado (3). A Conaf é ligada ao Ministério da Agricultura chileno e é responsável pelos bosques e parques nacionais do país – o vulcão do qual o brasileiro deslizou situa-se dentro do parque nacional.
''Eu acredito que ele caiu ainda vivo e que se não fosse o mau tempo e o tivéssemos localizado rapidamente, a história poderia ter sido diferente. Eu mesmo subi a montanha à noite para tentar encontrá-lo, mas as condições do clima não ajudaram e tive que descer'', disse Benavente, dono da operadora de turismo que realizou a excursão.
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Para ele, o que ocorreu foi uma fatalidade. ''Tenho a empresa há 12 anos e nunca vi nada parecido. Ele tropeçou nele mesmo, caiu para frente, deslizou e o perdemos de vista. Em seguida, veio uma nuvem baixa que impediu toda a visibilidade e a chance de que pudéssemos encontrá-lo imediatamente. Mais tarde, já à noite, voltei ao local sozinho, mas o clima era ruim e não foi possível encontrá-lo, afirmou.
Indícios
Benavente disse que logo após começar a deslizar montanha abaixo, Santos perdeu a ferramenta (parecida com um martelo) usada para frear a queda e só parou nesta cratera onde permaneceu até ser encontrado na manhã deste sábado.
''Este é um turismo de aventura, não um turismo extremo. Existe um perigo, mas ele é baixo. O que aconteceu foi uma fatalidade''. Benavente disse que após o acidente com o turista brasileiro decidiu encomendar sensores magnéticos aos Estados Unidos, a fim de que possa rastrear os turistas que participam de expedições realizadas pela Patagônia Andina.
''Esta é uma região segura e muito bem preparada para o turismo. Mas já encomendei os sensores que os turistas deverão usar. Com isso, do computador, no escritório, vamos saber onde o turista se encontra caso algo assim volte a ocorrer", disse.
O diretor regional da Conaf afirmou que ainda é preciso esperar o resultado da autópsia, mas até agora, destacou, as informações indicam que Santos teria morrido de frio.
''Os primeiros indícios são que ele não morreu da queda, mas de hipotérmica, de frio. Após deslizar pela montanha, ele caiu numa cratera estreita, com gelo e de cerca de sete metros de profundidade. Tudo indica que ele chegou ali vivo porque tirou o relógio que usava e guardou- na mochila, que não estava em seu corpo, mas ao lado dele. Ou seja, ele tirou o relógio, guardou-o na mochila e tirou a mochila", disse.
Ele recordou que a câmera fotográfica de Santos foi localizada na sexta-feira e nela estão os últimos registros do passeio até o topo do vulcão.
O que ocorreu é bastante anormal. Na hora que subiram havia sol e sem vento, mas o tempo mudou repentinamente e antes do previsto". Nesta época do ano, a temperatura pode variar de doze graus a negativo e a noite é quase sempre muito frio, como contaram à BBCBrasil jornalistas do site Soy Temuco, da cidade de Temuco, capital da Araucanía. "É frio de congelar e é muito difícil sobreviver", afirmaram.
Vulcão
O Chile possui mais de 500 vulcões, como contou o diretor do Conaf e o Villarica, com 2.800 metros de altura e em atividade, é o mais visitado por turistas no país.
Segundo Leslie, os guias estão ''bem treinados'' e existem exigências para que sejam evitados os acidentes como a restrição de um guia para cada seis turistas.
''Antes de subir, o turista é instruído sobre os cuidados que deve tomar para evitar acidentes. E caso este ocorra, não se deve jamais deixar cair a ferramenta que freia a queda, como ocorreu com Felipe'', disse o diretor. Ele e Benavente lembraram que o vulcão recebeu, segundo dados oficiais, 18 mil turistas no ano passado, superando o número visitas dos anos anteriores, e que o último acidente com morte no em 2006.
Desde 1982, afirma Leslie, só morreram 8 pessoas em acidentes no vulcão. O número, comenta, é um sinal de que caminhadas na região do vulcão não estão ''entre as aventuras mais perigosas. Ao contrário'' disse.
Na quinta-feira, o mesmo dia do acidente com Felipe, um mexicano, de 21 anos, também morreu, ao deslizar da montanha e um chileno se feriu. As primeiras informações indicam que os três estavam no mesmo grupo, apesar de terem contratado operadoras diferentes.
''É tudo muito estranho. Os dois acidentes ocorreram com 10 minutos de diferença. Mas naquele mesmo dia, 200 pessoas subiram o vulcão e nada ocorreu'', disse o proprietário da Patagônia Andina.
Os dois disseram que os brasileiros estão entre os principais turistas que chegam à região. Boa parte deles vêm em busca de turismo ambiental e de aventura.