A família do comerciante chinês naturalizado brasileiro Chan Kim Chang, 46, avalia a possibilidade de processar o Estado por sua morte. Chang morreu nesta quinta-feira, em consequência de suposto espancamento no presídio estadual Ary Franco, no Rio. Ele ficou oito dias internado em coma, com traumatismo craniano.
Os parentes estão divididos. Alguns afirmam que mantêm a decisão de entrar na Justiça. Outros preferem não tomar esta providência.
Segundo David Lopes, advogado da família, uma posição deverá ser conhecida na próxima segunda-feira.
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"A família ainda está muito abalada. Por isso [os parentes] estão divididos se vão ou não entrar com uma ação contra a União e contra o governo do Estado", disse.
O comerciante foi encontrado desmaiado no presídio após ser preso ao tentar embarcar para os EUA com US$ 30 mil não-declarados à Receita Federal. O advogado do comerciante, José David Lopes, que encontrou o cliente desmaiado, afirmou que ele tinha um corte na cabeça e hematomas no corpo.
Enterro
O corpo do comerciante foi enterrado por volta das 17h no cemitério Parque Jardim da Saudade, em Mesquita, na Baixada Fluminense. O secretário de Estado de Direitos Humanos do Rio, João Luiz Pinaud, acompanhou a cerimônia.
Antes do enterro, um grupo formado por 45 integrantes da comunidade chinesa no Rio realizou um protesto com faixas e cartazes pedindo justiça nos dois idiomas (português e chinês).
Alguns dos manifestantes cobriram os olhos e as bocas com fitas adesivas para demonstrar, segundo eles, a posição das autoridades em relação ao caso.
Ferimentos
Pinaud afirmou que as lesões sofridas por Chang indicam que ele foi espancado e não se autolesionou durante uma crise nervosa, conforme a versão de agentes penitenciários.
Ele disse que a governadora Rosinha Matheus (PMDB) pediu que o chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins, entre na Justiça com pedido de prisão temporária contra os suspeitos de envolvimento no caso. Ele não informou, porém, quem são os suspeitos.
Segundo o secretário, laudos do IML (Instituto Médico Legal) com fotos do comerciante mostram que ele estava em posição fetal --para tentar se defender-- quando foi agredido. Chang não apresentava hematomas nas costas ou no peito, mas sim na cabeça, braços e pernas. "Quando se fica nesta posição, é um exemplo claro de defesa".
"Ele foi encontrado pela equipe médica molhado, jogado no chão", disse o secretário. "Chang é um exemplo de um ser humano cruelmente transformado em coisa, porque nem com um animal se pode fazer isso."
O exame foi solicitado na última segunda-feira pelo procurador da República no Rio Rogério Nascimento, depois que o caso foi levado ao Ministério Público Federal. O procurador pediu à PF a lista dos policiais que fizeram a escolta do comerciante até a prisão.
Agentes
O secretário também questionou a visita, na última quarta-feira, de quatro agentes penitenciários ao IML, no centro, com o objetivo de obter os endereços dos médicos legistas que fizeram o primeiro exame de corpo de delito em Chang.
Pinaud não descartou a hipótese de os agentes quererem intimidar os médicos. A defesa dos quatro alegou que o objetivo era procurar alguém que testemunhasse a favor deles.
Informações Folha Online