As duas rodadas de votação do conclave dos cardeais na manhã desta quarta-feira não resultaram na escolha de um novo papa. Às 11h40 locais (07h40 em Brasília), a chaminé da Capela Sistina lançou fumaça preta - que não pareceu tão preta quanto a de ontem, diga-se, causando dúvidas - anunciando que ainda não houve a maioria de dois terços de votos necessária para eleger o sucessor de Bento 16.
Milhares de pessoas, entre fiéis, pregrinos e turistas, enfrentavam uma fina chuva para poder ver a fumaça da Praça São Pedro. A expectativa é de que a praça esteja bem mais cheia à tarde. Por volta das 17h30 locais (13h30 em Brasília) poderá aparecer uma fumaça - nesse caso seria branca, anunciando a escolha de um papa.
Foi neste momento, após o terceiro escrutínio do segundo dia de conclave, que Bento 16 foi eleito em 2005. Caso não haja decisão na primeira rodada da tarde, não haverá a fumaça das 17h30 e as expectativas se voltarão para a fumaça derradeira do dia, marcada para as 19h00, que pode ser branca, anunciando a escolha de um papa, ou preta, adiando a decisão para os próximos dias.
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Votações
A primeira votação, na terça-feira, foi vista como uma preliminar para apresentar os nomes que serão postos em discussão. A partir desta quarta, os cardeais votam duas vezes pela manhã e duas vezes à tarde, até que um deles receba 77 dos votos.
Apos a votação da noite passada, os cardeais se retiraram para a Casa de Santa Marta, em um anexo do outro lado da Basílica de São Pedro, onde puderam jantar, conversar e dormir.
O jornal italiano La Reppublica desta quarta-feira diz acreditar que essas conversas devem ter sido dominadas por dois grupos, o dos pró-reformistas que apoiam o arcebispo de Milão, Angelo Scola, e o grupo ligado à Cúria, a máquina administrativa da Santa Sé, que no conclave transita em torno do camerlengo - que dirige a Igreja no caso do falecimento ou renúncia de um papa - Tarcisio Bertone, cujo candidato seria o brasileiro Odilo Scherer.
A primeira votação, segundo o jornal, teria sido, "de fato, um referendo pró- ou anti-Scola" e para ver se poderia haver uma "terceira facção", nascida de alguma preferência até então desconhecida, dando "vida a uma indicação ou alternativa inesperada".
Outro jornal italiano, o La Stampa, vê o dia de hoje como decisivo. "Os cardeais tiveram tempo para orar e refletir", diz o jornal, "se não fecharem com um candidato neste segundo dia, como foi o caso com Ratzinger (no conclave anterior) então na manhã de quinta é provável que outro candidato entre em campo".
Dessa vez, vários analistas apostavam em uma eleição mais demorada, justamente por não conseguirem identificar um favorito claro na preferência dos 115 cardeais eleitores. Os conclaves mais longos da Era Moderna - os de 1903 e 1922 - duraram cinco dias.
Scherer
A candidatura de dom Odilo Scherer, que vinha sendo apontado como um dos favorito, parece ter perdido força. Na terça-feira, os cardeais participaram dos tradicionais rituais de abertura do conclave, entre eles o de juramento de não revelar detalhes sobre o que foi dito e feito na Capela Sistina.
As TVs mostraram cada cardeal em close, e o La Reppublica diz nesta quarta que "o rosto preocupado de Odilo Scherer" poderia sinalizar que "depois de três gafes consecutivas ... ele teria compreendido que talvez perdeu uma chance real de competir".
As "gafes" ao que o jornal se refere seriam a confusão que fez em agosto de 2012, ao divulgar um texto sobre o "quinto mandamento", "não roubarás", que não é o quinto, mas o sétimo; o fato de ter derrubado a hóstia no chão na missa celebrada em Roma no domingo, acompanhada com atenção pela mídia, e "o apoio da Cúria de Tarcisio Bertone, apesar das duras críticas de cardeais".
Outro sinal de perda de força poderia ser o resultado de uma enquete feita com vários vaticanistas dos principais do mundo, divulgada no La Stampa.
Scherer aparece apenas em quarto lugar com 8,7% dos votos, atrás do canadense Marc Ouellet (9,3%), do americano Timothy Dolan (10,6%) e de Angelo Scola (34%). A pesquisa do YouTrend foi feita com vários especialistas de 15 jornais e agências de notícias italianas e internacionais.
Isolamento
Não foram divulgados detalhes sobre como é feito o translado dos cardeais da Capela Sistina até a Casa Santa Marta - justamente para tentar garantir o isolamento destes durante todo o conclave.
Tanto a Capela Sistina como a Casa de Santa Marta são equipadas com antiescutas e bloqueios de sinais de telefones celulares. Antes de cada sessão de conclave, é feita uma varredura na Capela Sistina e arredores em busca de equipamentos audiovisuais capazes de gravar ou transmitir os procedimentos. Os cardeais são proibidos de receber ou enviar e-mails, usar telefone, TV ou radio ou ler jornais.
A Casa de Santa Marta, um prédio de cinco andares com 130 quartos, foi transformada para hospedar os membros do conclave em 1996 por ordem do papa João Paulo 2º para garantir um conforto maior aos cardeais. Até então, estes não podiam abandonar o recinto do conclave enquanto não tivessem escolhido um papa.
Nos dois conclaves de 1978, que elegeram João Paulo 1º e João Paulo 2º, por exemplo, os cardeais dormiam em tendas improvisadas, com uma cama, uma bacia, um crucifixo e um kneeler, erguidas em locais adjacentes no Palácio Apostólico que pudessem ser isolados do exterior.