Um dia depois de ser informado de que não seria contemplado pelo contrato de compra de 36 aviões de caça para a Força Aérea Brasileira (FAB), o governo da França afirmou que o Brasil "queria um avião menos sofisticado e mais barato". A declaração foi feita pelo presidente François Hollande, e referia-se à escolha dos aviões Saab Gripen NG em lugar do Dassault Rafale e do Boeing F-18.
Os comentários foram os primeiros feitos pelo chefe de Estado depois da decepção da perda do contrato, avaliado em cerca de US$ 4,5 bilhões para o vencedor, a sueca Saab. "Eu esperava por isso há vários meses", disse Hollande, argumentando: "Na verdade o Brasil queria um avião menos sofisticado e, portanto, mais barato, e não necessariamente para usar logo em seguida". "A partir disso, o Rafale não poderia estar bem posicionado, mesmo sendo um avião muito bom."
A França ainda negocia com exclusividade - sem concorrência - a venda de seus caças para a Índia, em um contrato maior do que o brasileiro: 126 aviões e transferência de tecnologia irrestrita por US$ 15 bilhões. "Para que os Rafale fiquem mais baratos, é preciso que sejam vendidos", ponderou o presidente, reconhecendo que o preço do aparelho era mais alto do que o dos concorrentes.
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Na mesma linha, o ministro da Defesa da França, Jean-Yves Le Drian, relativizou a perda para a indústria aeronáutica do país. "O Brasil não era nosso alvo prioritário", assegurou, reafirmando que o Rafale não era mais o favorito na disputa pelo FX-2 com a Boeing e a Saab.
A escolha do governo brasileiro repercutiu muito na França, nesta quinta-feira, 19, porque o negócio chegou a ser considerado fechado em 7 de Setembro de 2010, quando os então presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy anunciaram, em comunicado conjunto divulgado em Brasília, que os dois países negociariam em separado o contrato.
Parceria
Um dos responsáveis pela aproximação dos dois países ao longo dos últimos anos, o embaixador do Brasil em Paris, José Maurício Bustani, disse ao Estado que a Parceria Estratégica entre os dois países não foi abalada pela decisão do governo brasileiro. "As parcerias que estão em vigor estão caminhando lindamente, inclusive a construção dos submarinos e a dos helicópteros pela Eurocopter no Brasil", assegurou.
Bustani desmentiu ainda os rumores de que haja problemas na construção dos submarinos pelo estaleiro francês DCNS, parceiro da Odebrecht no Brasil em um contrato de US$ 10 bilhões - duas vezes mais do que o valor dos caças - ou com os helicópteros Super Cougar, da Eurocopter, já adquiridos pelo governo brasileiro.