O jornalista brasileiro Tariq Saleh passou 12 horas sob fogo cruzado no campo de refugiados de Nahr al-Bared, no norte do Líbano. Desde sexta-feira (01) o Exército libanês vem intensificando a operação contra o grupo militante islâmico Fatah al-Islam, que está no campo de Nahr al-Bared.
Em entrevista à BBC Brasil, Tariq contou que chegou sábado à noite de carro na estrada que passa ao lado do campo e, sem ser notado, ultrapassou a barreira imposta pelos militares libaneses à imprensa. O jornalista continuou seguindo até chegar à casa de uma família que já havia o acolhido em outra ocasião.
"Por muita sorte não fomos notados pelos soldados que estavam na barreira, mas quando chegamos à casa da família libanesa, já eram 23h30 e todos estavam dormindo", conta o brasileiro.
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Cem mortos
Tariq e um colega jornalista que o acompanhava passaram a noite ao relento ao "som ensurdecedor de morteiros e metralhadoras". "Tivemos de nos esconder no quintal e nos revezamos para evitar surpresas desagradáveis. Nosso maior medo eram os franco-atiradores", lembra Tariq.
Assim que o dia amanheceu, Tariq Saleh e o colega conseguiram entrar na casa, de onde filmaram e fotografaram cenas da batalha escondidos atrás de cortinas entreabertas.
"Meu maior medo, além de ser atingido por uma bala perdida, era ser preso, porque nenhum jornalista poderia estar no campo naquele momento".
Toda a imprensa havia sido deslocada para o alto de uma colina distante do campo de batalha, enquanto Tariq conseguiu se posicionar a apenas 30 metros de uma das bases da artilharia libanesa.
"O barulho era assustador. Sempre que as bombas eram detonadas, as janelas tremiam e, num dado momento, pude sentir, de dentro da casa, a corrente de ar que se formava quando as bombas caíam".
"Vimos militantes abrindo fogo dos prédios em que estavam escondidos, e, pouco mais tarde, meu colega viu três militantes voando pelas janelas depois de serem atingidos pelas bombas libanesas".
O bombardeio era tão intenso que, depois de algumas horas, um dos prédios ocupados pela milícia islâmica acabou desmoronando.
Dados oficiais contam mais de cem mortos entre civis, soldados e militantes, mas o jornalista afirma que o número pode ser maior.
'Mil por hora'
O jornalista e o colega conseguiram deixar o campo às 15h do domingo, quando a artilharia libanesa diminuiu a intensidade dos bombardeios.
"Para conseguir sair de lá, prendemos os coletes à prova de bala no vidro traseiro e na janela lateral que dava para o campo. Por sorte não fomos parados por alguns soldados que nos viram passar e depois saímos a mil por hora", disse.
"O campo está inteiramente destruído. Todos os prédios, tantos os mais baixos como os mais altos, estão seriamente danificados, uma cena horrível."
Horas depois de ter deixado o campo de Nahr al-Bared, o jornalista disse que o Exército divulgou a morte do comandante militar e do líder espiritual do Fatah al-Islam, mas a informação ainda não foi confirmada.
O Exército libanês mobilizou mais de 3 mil soldados para a batalha iniciada na sexta-feira. Acredita-se que ainda há 140 membros da milícia islâmica em Nahr al-Bared.
De acordo com o jornalista, autoridades da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e do Fatah, partido do presidente palestino Mahmoud Abbas, estiveram no campo no fim de semana para negociar a rendição dos militantes.