O líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) Luciano Alves da Silva, 28, foi assassinado ontem à noite com três tiros no peito e um na cabeça, em Craíbas (AL).
Conhecido como Grilo, ele havia sido indiciado na semana passada por liderar saques e bloqueios de estrada na região de Arapiraca (122 km de Maceió). Segundo a polícia local, ainda não há pistas dos assassinos nem sequer suspeitas sobre o que teria motivado o crime.
De acordo com a Delegacia Regional de Arapiraca, Alves da Silva foi morto ontem por volta das 22h, quando retornava a pé de Arapiraca para o assentamento Rendeira, em Girau do Ponciano. O crime ocorreu no meio do trajeto, em Craíbas, numa estrada vicinal de terra. "Ele morreu num local totalmente desabitado e sem iluminação", disse o delegado regional Cícero Torres.
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Segundo a polícia, o assentado José Soares dos Santos, o Borja, que estava com Alves da Silva no momento do assassinato, disse que os assassinos estavam de capacete em uma moto. "Ele [Borja] disse que os assassinos atiraram apenas em seu companheiro [Alves da Silva]. Dá a impressão de ter sido um crime encomendado, mas ainda é muito cedo para apontarmos suspeitos ou o que motivou os tiros", afirmou o delegado regional.
De acordo com a superintendência do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em Alagoas, Alves da Silva presidia a associação do assentamento Rendeira, o maior do Estado, com cerca de 300 famílias, na cidade vizinha de Girau do Ponciano.
A região tem sido palco de inúmeros conflitos nos últimos meses, com barricadas, saques e invasões. Há três semanas, um sem-terra foi ferido a bala por um policial durante um bloqueio de estrada.
O superintendente regional do órgão, Mário Agra Júnior, viaja amanhã à região de Arapiraca. A Ouvidoria Agrária Nacional informou hoje que está atenta ao caso, colhendo informações por meio da seção alagoana do Incra e da Polícia Militar. Em princípio, nenhum ouvidor irá ao Estado.
De janeiro a agosto deste ano, segundo a ouvidoria, ocorreram 20 crimes em conflitos fundiários no país. Somam-se a eles as mortes de dois sem-terra ocorridas na semana passada no interior do Paraná.
Em 2002, foram 20 mortes, contra 14, em 2001, e 10, em 2000. Os casos do PR e de AL somente serão computados nas estatísticas da ouvidoria caso os respectivos inquéritos policiais apontem a luta pela terra como a motivação do assassinatos.
Segundo a ouvidora agrária substituta, Maria de Oliveira, 52, a tensão no campo está relacionada às milícias armadas dos fazendeiros. "O maior ponto de risco no país no campo é a questão da violência voltada ao lamento dos fazendeiros e suas milícias armadas", disse, na última sexta-feira.
De acordo com a CPT (Comissão Pastoral da Terra, braço agrário da Igreja Católica) no Estado, Alves da Silva foi o 39º trabalhador rural assassinado no Estado desde 1988 em conflitos agrários.
José Roberto da Silva, da coordenação estadual do MST, disse hoje que o movimento irá cobrar uma rápida investigação das autoridades locais. "Temos várias suspeitas. Ele [Alves da Silva], por exemplo, estava denunciando a ação de pistoleiros ligados a fazendeiros da região."
Informações Folha Online