Identificar e analisar, por meio de conceitos da psicologia, os fatores envolvidos na percepção de risco dos motoristas em relação ao excesso de velocidade. Com esse objetivo Iara Picchioni Thielen, coordenadora do Núcleo de Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), realizou um levantamento com dois grupos de motoristas da cidade de Curitiba, multados e não multados.
A principal conclusão do trabalho, publicado nos Cadernos de Saúde Pública, é que não importa se o motorista foi ou não multado, a percepção dos riscos é praticamente a mesma, fruto de uma espécie de "regulamentação pessoal" por eles criada, em que a velocidade no trânsito se torna um fenômeno cuja escolha é individual.
Foram entrevistados 20 indivíduos com mais de nove multas por excesso de velocidade, sendo três mulheres e 17 homens, todos com idade acima de 30 anos, e outros 16 motoristas sem multas. As 25 questões abordaram fatores como a conceituação pessoal de excesso de velocidade, causas desse comportamento, impacto das multas em relação às iniciativas de prevenção e mudança de comportamento dos indivíduos multados.
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"Nos dois grupos avaliados a percepção de risco estava distorcida e os indivíduos achavam ter controle suficiente das variáveis que envolvem as situações do trânsito, fazendo com que a noção dos risco de acidentes fosse minimizada. Os motoristas dos dois grupos reinterpretaram as regras de trânsito, identificando velocidades máximas diferentes daquelas definidas pela legislação", disse Iara à Agência FAPESP.
De acordo com a pesquisadora, os entrevistados, principalmente motoristas infratores, justificam o excesso de velocidade revelando uma "invulnerabilidade pessoal associada a um otimismo irrealista e a uma autopercepção superavaliada".
"Com essa invulnerabilidade eles se acham imunes e auto-suficientes e, por isso, disseram estar longe de perigo. Foi verificado uma percepção em excesso com relação ao controle sobre o ambiente. É a conhecida noção de que os danos só vão ocorrer com os outros motoristas. E é ali, segundo a maioria dos entrevistados, que está o grande perigo, ou seja, nos outros carros", contou.
"Enquanto isso, só em 2007 morreram cerca de 35 mil pessoas nas rodovias e ruas das grandes cidades brasileiras. Trata-se da segunda causa de morte do país, atrás apenas dos óbitos por problemas cardíacos", lembrou. Os dados são do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).
Agência FAPESP