A escolha de Timoleón Jiménez, o "Timochenko" (cujo verdadeiro nome é Rodrigo Londoño), como novo líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) indica que a guerrilha optou manter a atual estratégia militar e o combate, de acordo com analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Quinze dias depois da operação do exército que matou Alfonso Cano, o então líder do grupo, no sudoeste da Colômbia, as Farc anunciaram Timochenko como o novo chefe.
Ele era o segundo na linha de comando do secretariado das Farc, e, de acordo com a guerrilha, foi escolhido pelo comando e aprovado pelas tropas combatentes.
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Timochenko tem 52 anos, dos quais 30 foram dedicados às Farc. Médico cardiologista, ele é o mais antigo membro do atual comando.
Nesta quarta-feira, o governo colombiano afirmou que não sabe de seu paradeiro, embora se especule que ele esteja próximo à fronteira da Colômbia e Venezuela, na região de Santander.
Para analistas, a opção por Timochenko revela que as Farc não pretendem negociar dentro das condições propostas atualmente pelo governo. Ao contrário, seria um sinal de resistência e de que, para o grupo, o "combate" vai continuar.
"As Farc optaram por manter a mesma estratégia ofensiva que privilegia os confrontos com as força públicas e até mesmo os ataques contra civis. A ideia é resistir", explica Ariel Ávila, coordenador da Corporación Nuevo Arco-Íris, uma ONG colombiana trata de conflitos e busca pela paz.
Ávila diz que Timochenko é considerado o maior estrategista militar das Farc e o único do atual comando que recebeu treinamento militar na antiga União Soviética e na Iugoslávia.
"Como Cano, ele tem raízes urbanas, mas não tem um perfil político. Ele é considerado um comandante linha-dura e muito respeitado pelas tropas de base das Farc."
Agenda
Ávila acredita que, com a escolha por Timochenko ao invés de alguém com perfil mais negociador, as Farc querem dizer que nada mudou para eles, e que a "guerra" continuará até que outros fatores de negociação possam ser colocados à mesa.
"O governo Santos tem de tomar cuidado para não construir um discurso assoberbado, dizendo, de um lado, que as Farc serão derrotadas, e de outro, chamando-as ao desarmamento sem oferecer propostas mínimas."
"Governo e Farc têm de adequar seus níveis de exigência. O governo tem que buscar um nível maior de reformas para o Estado colombiano e as Farc precisam se abrir para uma agenda menos radical", afirma.
Para o professor de Ciências Políticas da Pontifícia Universidade Javeriana da Colômbia Pedro Valenzuela, as duas partes devem buscar concessões, mas isso não acontecerá agora.
"A agenda das Farc é muito grande, mas eles têm consciência de que a revolução de esquerda que eles pleiteavam não vai acontecer. Só que, como ainda dispõem de combustível para brigar, vão levar isso adiante," explica Valenzuela.
O professor acredita que alguns dos pontos importantes que devem entrar na pauta do governo colombiano para negociar com as Farc são a reforma agrária, garantias políticas para os líderes do grupo e um combate mais efetivo do estado ao paramilitarismo.
"Claro que isso é muito difícil. Há muita resistência de alguns setores políticos e econômicos para tratar estes pontos. Mas as Farc continuarão atuando da mesma maneira."
Expectativa
Apesar de não ver a curto prazo um horizonte favorável à resolução do conflito e à pacificação colombiana, Valenzuela avalia que, devagar, o país está construindo um ambiente propício à paz no futuro.
"A guerra continuará por um bom tempo, mas existem alguns espaços onde se pode abrir diálogos. O governo Santos já deu provas de que tem potencial negociador e que tem consciência de que algumas das demandas das Farc são plausíveis", diz.
O professor cita como exemplo a lei de reparação de vítimas e o esforço do atual governo de tentar devolver as terras aos camponeses obrigados a deixarem suas casas por causa do conflito.
"As Farc sabem que têm mais chance de negociar com Santos que com o governo anterior (Álvaro Uribe). Por isso, com mais ajustes nos discursos de ambas as partes e mais concessões em prol da própria democracia colombiana, podemos sim chegar à pacificação", afirma Valenzuela.