A proporção de brasileiros situados abaixo da linha de pobreza caiu de 35% para 19% do total da população brasileira - estimada em quase 190 milhões de pessoas - entre 1993 e 2006 - uma redução cerca de 45% no percentual de pobres em um prazo de apenas 14 anos. A constatação é da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que divulgará a pesquisa "Miséria, Desigualdade e Política de Renda: O Real do Lula" nesta terça-feira.
Feito a partir de microdados da Pesquisa por Amostra de Domicílios de 2006 (Pnad), divulgada na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o levantamento da FGV aponta para a manutenção da redução dos índices de desigualdades e de distribuição de renda no país, iniciada a partir da recessão verificada em 2003.
Em entrevista à Agência Brasil, o coordenador do Centro de Políticas Sociais do Instituto Brasileiro de Economia - órgão da FGV –, Marcelo Neri, antecipa alguns dos resultados do estudo e demonstra "surpresa" com algumas das constatações da pesquisa. "A analise dos microdados da Pnad indicam que, em 2006, houve uma redução da miséria no país de cerca de 15% - este é o maior resultado dos últimos dez anos e mostram um crescimento da renda domiciliar per capita (ou seja, já descontado o crescimento da população) de 9,16% - resultado mais próximo a um crescimento chinês".
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"Os números de 2006 não só dão seqüência às conquistas observadas desde a piora da pobreza com a recessão de 2003, como também constitui o melhor ano isolado da série histórica da nova Pnad, com queda de 15% da miséria no país – o melhor resultado dos últimos dez anos", afirma. As analises da FGV indicam que, do ponto de vista da distribuição de renda, os 50% mais pobres cresceram a sua participação nas riquezas do país em 12%, enquanto os 10% mais ricos em 7,8%, no ano passado.
"Isto significa que o bolo continuou a crescer para todos, mas com mais fermento para os mais pobre. Os indicadores sociais baseados na renda são os melhores dos últimos dez anos. Desde o boom do Real que não se via melhora tão acentuada", enfatiza o economista.
Na avaliação do professor da FGV os dados, além de surpreendentes, embutem uma incógnita: "Chama a atenção o fato de que enquanto as contas nacionais apontam crescimento do PIB per capita para o mesmo ano de apenas 2,3%, a estatística equivalente da Pnad indica expansão de 9,16% - três a quatro vezes mais. Os dados da Pnad mostram um crescimento que não tem nada a dever no último ano ao observado na China e que se contrapõem violentamente aos do PIB", diz.
Marcelo Neri enfatiza que até mesmo o índice de Gini – que mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita – que tinha que tinha dado uma desacelerada em sua queda em 2005, em relação a 2004, voltou em 2006 a acelerar o seu processo de queda. "Uma acelerada em sua queda não tão espetacular quanto a verificada em 2004. Mas como ela vem acompanhada de forte crescimento da economia, ela gera um resultado mais espetacular na redução da pobreza que em 2004 que foi de 8%; e que em 2005, de 10%. Está combinação de fatores fez com que agora em 2006 está redução chegasse aos 15% - e isto comparativamente a anos anteriores já favoráveis sobre este aspecto".
Outro dado importante destacado pelo economista à Agência Brasil diz respeito à proporção de pessoas situadas abaixo da linha de pobreza. "A proporção de pessoas abaixo da linha de pobreza era de 22,77% em 2005. Já agora em 2006 ela caiu abaixo da barreira dos 20%, ao se situar em 19,31¨- uma marca histórica. Em 1993, antes da estabilização da economia ela chegou a estar em 35%. Isto significa que a gente caiu 45% neste espaço de tempo", conclui Neri.
ABr