Químicos da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) podem ajudar a remover um dos obstáculos ao velho sonho brasileiro de transformar a cachaça em um destilado tipo exportação.
Eles desenvolveram e patentearam técnicas que diminuem o teor de cobre na aguardente e também ajudam a detectar o excesso do metal por meio de um teste simples.
A idéia é permitir que os produtores brasileiros consigam, sem muitos gastos, adequar seu destilado às exigências sanitárias dos mercados internacionais. Na União Européia, por exemplo, exige-se que o teor de cobre não ultrapasse dois miligramas por litro de bebida, enquanto no Brasil o padrão é um teto de 5 mg/l.
Em princípio, o limite brasileiro já é considerado aceitável para a saúde humana, mas a cautela do mercado externo acaba impedindo a transformação da cachaça em bebida globalizada. O risco implicado pela presença do metal engloba doenças neurodegenerativas e o fato de ele favorecer o surgimento do etilcarbamato, substância cancerígena.
Leia mais:
Louis Vuitton lança coleção para pets com casinha de cachorro a R$ 340 mil
Justiça de Hong Kong reconhece direitos de moradia e herança para casais do mesmo sexo
Homem que nasceu no dia do naufrágio do Titanic morre aos 112 anos
França pede 20 anos de prisão a marido de Gisèle Pelicot, dopada e estuprada por dezenas de homens
É dos alambiques, onde a aguardente é destilada, que vem o cobre. A solução aparentemente óbvia (trocar o material do alambique) não é uma opção, pelo menos por enquanto, explica a química Andrea de Oliveira, doutoranda da Ufscar. "As pessoas já tentaram usar alambiques de aço inox, por exemplo, mas as propriedades da bebida, como o buquê e o gosto, ficam prejudicadas."
Mármore salvador
Para retirar o metal da bebida, os pesquisadores usaram um truque simples: misturaram à cachaça recém-destilada mármore ou calcário em pó, ambos formados basicamente por carbonato de cálcio.
É que, na forma em que aparece dissolvido na bebida, o cobre tem mais afinidade química com o carbonato do que o cálcio. Resultado: é como se o carbonato "largasse" o cálcio e agarrasse o cobre, formando um precipitado - uma espécie de pó, que é facilmente retirado por uma filtragem. "Conseguimos fazer com que uma bebida que tinha 20 mg/l de cobre chegue a 2 mg/l", diz Oliveira.
De quebra, outro método, envolvendo ácido ascórbico (vitamina C) e outro reagente, permite estimar se há excesso de cobre na bebida. A mistura faz com que a aguardente com concentrações altas do metal fique com forte cor amarronzada, enquanto a bebida com baixo de teor de cobre não se altera.
"O importante é que propriedades como sabor e odor também não se modificam", diz a pesquisadora. Em cachaças que já têm pouco cobre, o metal pode ser quase eliminado, reduzido a quantidades-traço, afirma.
O trabalho de Andrea de Oliveira foi orientado pelo pesquisador Eduardo Neves, que morreu recentemente, e teve co-autoria de Joaquim Nóbrega, ambos da Ufscar. Os produtores de cachaça interessados em aplicar o método podem contatar os pesquisadores da Ufscar no e-mail [email protected].
Fonte: Portal do Agronegócio