A BBC Brasil divulgou que um festival de música na Inglaterra terá plantonistas para dar atendimento psicológico aos fãs do estilo emocore (o rock "sombrio") que comparecerão ao evento. Os organizadores do V Festival, que será realizado neste fim-de-semana em Chelmsford e Staffordshire, confirmaram nesta sexta-feira (18) que mais de cem voluntários se dividirão entre os seis centros médicos armados no espaço.
Críticos de música chamaram atenção para a tendência sombria do V Festival, que espera receber 160 mil pessoas no embalo do estouro do emo-rock (emocore). A tendência, que cresce em todo mundo, funde letras angustiadas e guitarras elétricas.
O ex-líder do The Smiths, Morrisey, cantará antigos sucessos da banda, como Heaven knows I’m Miserable now, algo como "Só Deus sabe como estou mal agora". A banda Radiohead, de Oxford, disse que apresentará um material mais "aterrador" que seu último disco, Ok Computer, de 1997.
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Dezenas de outros grupos e cantores se revezarão nos dois dias de shows, e podem criar o efeito do que o jornal The Times chamou de "onda de depressão sobre a Inglaterra". Um crítico do diário escreveu: "problemas com álcool normalmente são a maioria nos festivais de música britânicos, mas os organizadores deste estão preparados para um mal mais existencial".
Entenda o que é ou quem são os emocores
Emocores ou emos, como são comumente chamados, é a nova tribo que está tomando conta das ruas das grandes cidades brasileiras. Na Europa o estilo está presente desde os anos 80, mas se tornou febre nos últimos anos.
O termo emocore vem de emotional hardcore, uma vertente do punk que mescla som pesado com letras românticas. O gênero emocore nasceu em Washington, na década de 80, para designar bandas que tocavam letras introspectivas, com batida pesada. A grande diferença é que os sons punks têm letras políticas, enquanto as composições emos falam do que os adolescentes sentem. Mais que um estilo musical, os adeptos do emocore criaram uma espécie de 'movimento', que difunde ideologias e atitudes.
Eles têm entre 11 e 20 anos e, nas roupas, predominantemente preta, são capazes de misturar as botas do punk, o colar de Wilma, a mulher de Fred Flintstone, e uma camiseta rosa com a gatinha Hello Kitty. Usam botons em mochilas, sapatos extravagantes e calças com bocas muito justas. Os cabelos são exóticos, com cortes caracterizados por uma enorme franja que quese sempre cobre em lado do rosto.
Alguns fãs de música emocore afirmam que existem também muitos 'paraguaios' - gíria usada pela turma para caracterizar aqueles que se fazem passar por emos sem entender nada da cultura. Muitos nem gostam da música, mas adotam as mesmas roupas e acessórios.
Os emos são expansivos. Gostam de trocar elogios, abraços e beijos em público. Ainda que não tenham um relacionamento, amigas emos se chamam de 'maridas'. Não escondem os sentimentos, expressam abertamente suas emoções, preconizam e praticam a tolerância sexual. Para os emos, e entre eles, é normal que um rapaz goste de meninas, mas admire o estilo de outros meninos. O mesmo ocorre com as meninas.
O comportamento atípico para a idade e o visual dos emos estimula um enorme preconceito contra a tribo. Não é incomum que os emos sejam insultados ou até agredidos por outros jovens. Em vários locais onde os grupos se reúnem, são freqüentes os arrastões em que são expulsos a tapas por participantes de outras tribos, como os punks, grupo ideologicamente mais politizado.
Segundo reportagem da Revista Época, os próprios donos das lojas desconfiam da presença infanto-juvenil, dizem que os emos espantam fregueses. Na escola, a discriminação também é forte. Um adolescente emo de um tradicional colégio paulista foi alvo de agressão dentro da escola depois de publicar no Orkut uma foto em que beijava um colega. Teve de sair da escola e hoje está em intercâmbio na Europa.
Em entrevista a Revista, a doutora em Educação pela Universidade Columbia, Regina de Assis, disse que a tolerância é o traço de comportamento que distingue os emos de outros jovens. 'A atitude dos emos irrita outros jovens porque eles não temem os sentimentos, enquanto a maioria dos adolescentes busca afeto optando pela agressividade', diz. Há várias comunidades no Orkut dedicadas a atacar os emos. Os nomes de algumas beiram o bizarro, como 'Hitler também era emo'.
Ser emo é... ser do bem
-Gostar de música emocore. O estilo mescla a batida hardcore com letras românticas e poesias adolescentes
-Viver na internet e no Orkut. Todas as bandas emo brasileiras colocam suas composições em sites
-Ser emotivo. Os emos choram ouvindo músicas que falam de amores
perdidos e rejeição dos pais
-Dar demonstrações explícitas de carinho. Meninos e meninas se beijam, se abraçam em público, seja com pessoas do sexo oposto, seja com as do mesmo sexo
-Aceitar a opção sexual do outro sem preconceitos
-Criticar pessoas violentas. Bater é altamente reprovável entre os emos
-Escrever diários, poesias e músicas. Isso vale para meninas e meninos
-Usar roupas que mesclam a rebeldia punk com os ícones infantis. Meninas e meninos usam rosa
-Usar cabelos lisos com enormes franjas no rosto. Usadas somente de um lado, denotam certa ambigüidade sexual
-Não curtir drogas
-Lutar por um mundo sem violência, em que um dia todos se abracem sem parar