O Senado do Paraguai votou nesta sexta-feira a favor do impeachment do presidente Fernando Lugo. Conduzido e consumado por opositores em pouco mais de 24 horas, o processo sofreu fortes críticas da comunidade internacional - para quem Lugo não teve o tempo necessário para se defender.
Lugo foi considerado culpado de cinco acusações por 39 senadores. Apenas quatro votaram por sua absolvição.
"(Após a votação nominal) se declara (Lugo) culpado e portanto (ele) fica separado dos plenos direitos de seu cargo", declarou o presidente do Senado Jorge Matto.
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A proposta de destituição do presidente foi o resultado de uma crise política iniciada com a morte de 18 pessoas - policiais e sem-terra - em uma ação de reintegração de posse de uma fazenda há uma semana.
Na quinta-feira, a Câmara dos Deputados aprovou o início do processo de impeachment, em sessão extraordinária.
Em seguida, Lugo fez pronunciamento em cadeia nacional de TV para desmentir rumores de que pretendia renunciar. Disse também que se submeteria ao processo no Parlamento e aceitaria suas consequências.
Horas depois, deputados fizeram uma apresentação no Senado de cinco acusações contra Lugo. Eles se baseiam no susposto envolvimento irregular do presidente com sem-terra e movimentos sociais.
Em uma delas, Lugo é acusado de subordinar unidades militares do país a grupos carperos (sem-terra) que as teriam usado para intimidar fazendeiros.
Os parlamentares também responsabilisaram Lugo pelas mortes ocorridas no conflito agrário da semana passada e o censuraram por ratificar um tratado do Mercosul que autoriza intervenções em países onde a democracia esteja ameaçada.
Após a apresentação das acusações, Lugo teve 18h horas para elaborar usa defesa e duas para apresentá-la ao Senado.
Ele preferiu não ir à sessão pessoalmente e enviou cinco de seus advogados para represent-lo no Parlamento, onde a oposição goza de ampla maioria (apenas três dois 45 senadores apoiam Lugo). Por volta das 16h30 (17h30 de Brasília) começou a votação para decidir sobre o impeachment.
Em entrevista à TV Telesur, Lugo afirmou na quinta-feira estar sendo vítima de um golpe de Estado. "Este é um golpe 'expresso' porque (os parlamentares) o implementaram nas primeiras horas da noite", disse.
Apoio
Dentro e de fora do Paraguai, porém, já há movimentações em favor do presidente paraguaio.
De um lado, países da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) estão apoiando e legitimando Lugo. Eles podem até impor sanções ao Paraguai no caso "de ruptura ou ameaça de ruptura da ordem democrática".
Do outro, movimentos sociais e aliados de Lugo prometem tomar as ruas de Assunção para protestar caso ele seja afastado.
De acordo com o ABC Color, cerca de 1.500 manifestantes acamparam nas imediações do Congresso para pressionar os deputados a rejeitarem um impeachment.
Hoje, mais 70 ônibus com aliados de Lugo devem chegar a Assunção vindos de diversas partes do país, segundo o governador da província de São Pedro, José "Pakova" Ledesma.
Já na quinta-feira à tarde diversos comércios fecharam as portas no centro de Assunção por medo de confrontos. A expectativa é que muitos não abram hoje.
Lugo foi eleito em 2008 com 41% dos votos, mas não há clareza sobre os seus índices de aprovação hoje. Segundo o instituto de pesquisas paraguaio Enrique Taka Chase, sua popularidade teria caído de 58% para 38% desde então. Uma pesquisa do Centro de Estudios y Educación Popular Germinal, porém, ainda lhe dava 58% de aprovação em janeiro.
Seu mandato interrompeu seis décadas de hegemonia do Partido Colorado na política paraguaia - grupo que colaborou ativamente em sua queda nesta quinta-feira.