O anúncio da morte do líder líbio, Muamar Khadafi, nesta quinta-feira (20), aumentou as discussões sobre o futuro do país, agora que os rebeldes consolidaram a tomada de poder.
"Esta é a fase mais difícil", diz o analista Leslie Gelb, presidente emérito do Council on Foreign Relations.
Segundo o especialista em política externa, a primeira fase da transição Líbia era ver se os rebeldes conseguiam ter sucesso em sua luta, e a segunda, derrubar Khadafi.
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"A terceira fase é ver se essas pessoas têm condições de governar o país", afirma. "O sucesso até agora é muito limitado comparado aos desafios que há pela frente."
'Matar uns aos outros'
O analista se diz cético quanto ao fim dos confrontos na Líbia e afirma que, conquistado o objetivo comum de derrubar Khadafi, as divergências entre os diferentes grupos rebeldes que se uniram contra o líder líbio devem começar a surgir com mais força.
"Os grupos que se uniram para lutar contra Khadafi têm pouco em comum. Acho muito provável que comecem a lutar uns contra os outros, e a matar uns aos outros", diz Gelb.
De acordo com o analista, os Estados Unidos e as outras potências ocidentais que apoiaram a luta contra Khadafi não têm uma ideia clara de quem são os rebeldes a quem ajudaram. "Não sabemos quem são esses caras que estavamos apoiando. E agora eles estão no poder."
Os Estados Unidos participam dos esforços coordenados pela Otan (aliança militar ocidental) para apoiar os rebeldes líbios, que incluíram inclusive o bombardeio de posições estratégicas para o regime de Khadafi.
A ação militar na Líbia foi aprovada em março por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, com o objetivo de proteger a população civil de ataques das forças leais a Khadafi.
Democracia
Nesta quinta-feira, após o anúncio da morte de Khadafi, o presidente americano, Barack Obama, disse que a Líbia tem de percorrer um longo caminho rumo à democracia.
Na avaliação do analista do Council on Foreign Relations, porém, não há garantias de que o fim do regime de Khadafi vá resultar em uma democracia.
"Não há exemplos na História de uma revolução nas ruas que tenha se transformado imediatamente em democracia", diz Gelb.
Ele cita o caso do Egito, onde a queda do presidente Hosni Mubarak, em fevereiro, após um levante popular, foi celebrada ao redor do mundo como uma transição para a democracia que, meses depois, ainda não se confirmou.
"Hoje em dia poucos estão tão otimistas (como estavam logo após a queda de Mubarak)", afirma.
Novo regime autoritário
Para o analista, é grande a chance de que o poder acabe nas mãos de um novo regime autoritário, e há o risco de que terroristas encontrem mais espaço na "nova Líbia".
Gelb observa que, em seus mais de 40 anos no poder, Khadafi teve diferentes períodos em seu relacionamento com a comunidade internacional.
Durante muitos anos era considerado o inimigo público número um, mas após renunciar às armas de destruição em massa, foi reintegrado.
"Mas ele sempre matou o seu povo", diz o analista.
"Não está claro para mim por que a França, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos decidiram se intrometer (somente agora) antes de saber exatamente a quem estávamos ajudando."