Os cinco acusados de tortura e tentativa de homicídio contra o camaronês Wilfred Happy Ondobo foram absolvidos na noite desta terça-feira (13), durante julgamento no Tribunal do Júri do Estado do Paraná, em Paranaguá. A decisão saiu por volta das 22h.
Segundo informações da Justiça Federal do Paraná (JFPR), os tripulantes Ihsan Sonmezocak, Mamuka Kirkitadze, Orhan Satilmis, Ramazan Ozdamar e Zafer Yildirims, que ficaram sob liberdade vigiada na cidade litorânea por quase quatro meses, receberam os passaportes logo após o veredicto e já foram liberados para viajar.
Os sete jurados acataram a tese da defesa, que negou que os tripulantes tivessem encontrado Ondobo a bordo. Para a justiça, o camaronês se contradisse várias vezes. Em uma delas, chegou a dizer que desceu do navio por uma escada de cordas, sendo que até então alegava ter sido arremessado ao mar. Outro ponto de discórdia, de acordo com a JFPR, foi em relação a uma lanterna. Ondobo teria primeiro afirmado que recebeu o objeto antes de ser jogado ao mar. Ao júri, porém, contou que a lanterna estava na mochila.
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Ainda segundo a JFPR, a denúncia de tortura também não pôde ser provada, já que o camaronês não apresentava nenhuma lesão corporal quando foi encontrado pelo navio chileno, no dia 28 de junho desse ano.
O julgamento foi presidido pelo juiz federal da Vara Federal e Juizado Especial Federal da Subseção Judiciária de Paranaguá, Vicente de Paula Ataíde Júnior. Realizado pela primeira vez na cidade e pela quinta vez no estado, o tribunal de júri federal ocorreu em tempo recorde. Em menos de 120 dias foi concluído o inquérito na Polícia Federal, apresentada a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) e feito o julgamento, que começou na segunda-feira (12).
Com a decisão, Wilfred Happy Ondobo será repatriado. De acordo com a JFPR, porém, ainda não há previsão de quando será dado o retorno. Essa seria a quarta repatriação de Ondobo.
Entenda o caso - No dia 16 de junho, Ondobo Happy Wilfred ingressou clandestinamente no navio MV SEREF KURU, no Porto de Douala, em Camarões, disfarçando-se de trabalhador portuário. Ele permaneceu escondido embaixo do motor de guindaste de trigo do navio por oito dias (até 23 de junho) quando, não tendo mais água e alimentos que garantissem sua subsistência, saiu do esconderijo.
A partir desta data, Wilfred disse que foi submetido a atos de violência e grave ameaça, passando por sofrimento físico e mental, como castigo por ter entrado clandestinamente no navio. Cinco dias após, mesmo tento informado que não sabia nadar, teria sido lançado ao mar sobre um estrado de madeira.
Aproximadamente 13h depois, por volta das 7h50, do dia 28 de junho, tripulantes do navio MARINA R., de bandeira chilena, que navegava pelo local, perceberam que havia um homem no mar pedindo socorro, quando então o resgataram. (Atualizado às 12h33)