A Represa do Passaúna, responsável pelo abastecimento de água da Região Metropolitana de Curitiba, tem pelo menos 50 partes de MIB (composto químico resultante da decomposição de algas) por trilhão de litros de água. A quantidade está 150% acima do limite recomendado. A análise, divulgada no final da tarde de ontem, foi feita pelo Sistema de Abastecimento de São Paulo, único do País especializado em exames de algas, a pedido da Sanepar. A empresa solicitou o exame depois de notar que a água tratada estava com cheiro e sabor alterados, resultado da proliferação de algas na represa.
De acordo com o gerente da Sanepar, Carlos Eduardo Pierin, quando a água apresenta acima de 20 partes do composto por trilhão, já é possível perceber alterações. Acima de 5%, conforme esclarece, as modificações já podem ser sentidas por especialistas. Segundo Pierin, apesar de ultrapassar o limite recomendado, a água não representa riscos para população. A represa abastece cerca de 560 mil pessoas.
A empresa começa hoje a realizar testes na água para verificar a melhor forma de redução e eliminação do composto encontrado, mas adianta que o MIB pode ser excluído de forma natural, apenas com as alterações climáticas, por exemplo. Pierin esclarece que a presença desse composto significa que as algas já foram eliminadas fisicamente. "O MIB é resultado da decomposição delas", ressalta.
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A Sanepar sustenta a hipótese dessas algas terem aparecido por causa de condições climáticas favoráveis ao seu desenvolvimento. Fenômeno semelhante ocorreu em 1998 na mesma estação, quando a empresa detectou algas que entupiram os filtros de tratamento, prejudicando o abastecimento da região.
O biólogo Luciano Felício Fernandes, professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que a proliferação dessas algas é favorecida quando há excesso de matéria orgânica (causada por efluentes químicos, esgotos, e dejetos humanos) na água. Segundo o biólogo, pelo menos três fatores podem impedir o desenvolvimento massivo dessas algas: tratamento do esgoto, manter vegetação natural no entorno da represa e educação ambiental.
Fernandes explica ainda que a probabilidade das algas serem tóxicas é maior quando elas aparecem por causa do excesso de matérias orgânicas na água. Nesse caso, observa, pode atingir as funções hepáticas das pessoas que beberem a água, podendo levar até a morte. Exames preliminares da Sanepar não acusaram toxicidade das algas encontradas.
A Comissão Especial criada pelo Ministério Público para avaliar a qualidade da água distribuída pela Sanepar se reuniu ontem para traçar metas de trabalho. Formada por representantes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), Universidade Católica do Paraná (PUC), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA), a comissão vai analisar semanalmente o resultado dos exames da água coletados em diversas estações de tratamento da Sanepar para detectar se a empresa cumpre os padrões de qualidade determinados. Caso isso não esteja ocorrendo, a empresa pode ser autuada.