Como se pareciam os nativos do Paraná há mais de dois mil anos? A exposição "Gufan, o paranaense de dois mil anos", aberta esta semana no Museu Paranaense,, em Curitiba, pode te mostrar de perto a representação de um indivíduo com essas características.
Ao aliar pesquisas arqueológicas à tecnologia de reconstrução facial 3D, foi possível recriar este homem Proto-Jê, encontrado durante uma escavação em 1954, na paleoaldeia em Estirão Comprido, um sítio arqueológico no município de Prudentópolis, área central do Paraná. O projeto é fruto da parceria entre o museu, o designer Cícero Moraes e a Beenoculus, empresa curitibana especializada em realidade virtual.
Para o diretor do Museu Paranaense, Renato Carneiro, a tecnologia empregada na realização desta exposição ressignifica conteúdos que são muito antigos e mostram que o passado é muito mais interessante do que apenas um conjunto de obras. "Quando uma criança vem aqui e experimenta um óculos de realidade virtual e consegue ver um esqueleto de dois mil anos, descoberto há mais de 60 anos, isso traz um mundo novo, traz uma série de possibilidades novas para uma instituição como o Museu Paranaense, que tendo mais de 140 anos, está sempre sabendo se renovar, sempre sabendo se reinventar", comenta.
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A arqueóloga do Museu Paranaense, Claudia Parellada, e o designer responsável pela reconstrução facial do Gufan, Cícero Moraes, fizeram uma apresentação durante a abertura da exposição, na terça-feira (24). Claudia falou sobre a escavação realizada em 1954 e como é o trabalho de identificação das características dos povos nativos com base nos achados arqueológicos. Já o designer explicou como é feita a reconstrução 3D e mostrou o passo a passo do trabalho com o Gufan.
Impressões
O professor de História e Filosofia Antonio Carlos Conceição Marques foi um dos presentes na abertura e teve a oportunidade de experimentar os óculos de imersão 3D para "ver de perto" o paranaense de dois mil anos, o que classificou como fantástico. "Acredito que a realidade virtual venha para modificar vários segmentos do conhecimento. Acho que é uma tecnologia sobre a qual nós, brasileiros, deveríamos exigir mais pesquisas e mais desenvolvimento, para que isso chegue não só a um público restrito, mas ao conjunto da população".
"Sensacional" foi a palavra usada pelo biomédico Wallyd Kalluf Koury sobre a experiência de conhecer o Gufan, principalmente por se tratar de algo próximo, aqui do Paraná. "E uma coisa bacana é que, como trabalho com banco de sangue, a gente vê relacionamentos antropológicos de pessoas como, por exemplo, os índios brasileiros com a população do centro asiático. Achei interessante saber qual o vínculo de um ser de dois mil anos atrás com outras populações do mundo", comentou Koury.
Tecnologia
Depois de 63 anos das pesquisas iniciais, a tecnologia forense possibilitou mostrar como era o rosto desse paranaense milenar, por meio de uma técnica conhecida como reconstrução facial digital. "A gente utiliza uma série de protocolos forenses que são utilizados na reconstrução facial de vítimas de crimes. Então é uma ciência muito séria baseada em estudos científicos e comparações, não é algo artístico, é científico", explica o designer 3D Cícero Moraes, que detalha o processo.
"Inicialmente precisamos de um crânio, que é a base de toda a reconstrução. Em cima desse crânio fazemos uma reconstrução que é baseada em uma abordagem estatística, em que colocamos marcadores de profundidade no tecido mole por um lado e por outro fazemos uma aproximação anatômica. Ao final do processo a gente pigmenta, com base na ancestralidade do indivíduo – neste caso um asiático com mix de africano – e nós temos a reconstrução facial. É a mesma técnica utilizada no meio forense, onde nós trabalhamos com reconstrução facial para a polícia".
O processo de reconstrução básica e animação do Gufan levou cerca de uma semana, além dos três dias para portar para a realidade virtual. Essa foi a primeira vez que uma face foi apresentada em ambiente 3D imersivo no Brasil. Uma equipe de especialistas em realidade virtual e aumentada liderada por Alessandro Binhara desenvolveu a plataforma que permitiu exibir a face de Gufan com óculos 3D.
Parentesco
Gufan pertencia a um povo indígena agricultor, ceramista e que possuía uma engenharia refinada de construções subterrâneas e habitava regiões com matas do pinheiro Araucária.
A arqueóloga Claudia Parellada, responsável pelo setor no Museu Paranaense, explica que os estudos acerca do Gufan permitem esclarecer alguns aspectos de sua vida. "Devido às características do sepultamento a gente consegue identificar que ele tinha uma hierarquia social maior, ou seja, ele provavelmente era um líder político ou religioso".