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Periferia de Curitiba sente 'boom' de trabalho

Agência Estado
01 jun 2010 às 14:56

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Há 18 anos, quando começou a se formar, o bairro Sítio Cercado fazia jus ao nome, com seu aspecto rural. Hoje com 180 mil moradores, é o bairro mais populoso da periferia de Curitiba. Seu comércio acanhado contrastando com a vasta população revela sua natureza de cidade-dormitório, cuja mão de obra se emprega nas áreas centrais da cidade e nas indústrias da Grande Curitiba. A classe trabalhadora de Sítio Cercado vive intensamente o dinamismo da geração de empregos. Num frio fim de tarde de quarta-feira, cinco moradores se reuniram na rádio comunitária do bairro para conversar com o Estado.

O motorista José Aparecido da Silva, de 39 anos, era empregado de um supermercado até dezembro. "Saí porque o serviço era muito puxado, trabalhava sábado, domingo e feriado e o salário era baixo: R$ 700." Agora, ele presta serviços para uma empresa que transporta passageiros em vans para São Paulo, onde fazem compras na Rua 25 de Março. Aparecido sai às 6 horas e volta às 6 do dia seguinte. Por cada viagem, ganha R$ 150. Tira R$ 1.000 por mês. "Trabalho menos e ganho mais."

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Sua mulher, uma cabeleireira de 45 anos, também deixou há 6 anos um emprego para abrir o próprio negócio. "Ela trabalhava num salão de gente rica no centro e agora atende a gente pobre aqui", descreve Aparecido. Seu salário era de R$ 1.000. Agora ela tira R$ 1.500 por mês. Ambos estão pensando em formalizar-se pelo programa Pequeno Empreendedor, do governo federal, passando a pagar INSS. "Na minha opinião, melhorou a situação do Brasil", opina Aparecido. "No feriadão as estradas estão lotadas de carros e a rodoviária está cheia. Se estão viajando, é porque está sobrando dinheiro."

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Há oito meses, o radialista e eletricista Jânio Silva, de 50 anos, comprou o seu primeiro carro, um Fusca 74, por R$ 2.500. "Acho que nos últimos anos as coisas têm melhorado", diz Jânio, que apresenta um programa de música sertaneja gaúcha na rádio comunitária, e faz bico de eletricista. "Está tendo bastante emprego, às vezes as pessoas é que não estão capacitadas."

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É o caso de Adalberto Difert, que não pôde participar de um concurso de agente de saúde do bairro porque não tinha o primeiro grau completo. Aos 55 anos, ele voltou a estudar em fevereiro. Entrou no equivalente à 5.ª série e agora está na 6.ª. "Este ano termino o primeiro grau", anima-se. "Tive de me emendar depois da meia idade. Comecei a sonhar de novo."


Depois de ter trabalhado como auxiliar de escritório, frentista de posto de gasolina e porteiro, Adalberto tornou-se em 1989 sacoleiro de cigarros do Paraguai. Dez anos mais tarde, quebrou, com a desvalorização do real. Desde então, vive de bico, e tira de R$ 500 a R$ 600 por mês pintando portões e casas. Sua mulher, viúva, complementa a renda com uma pensão de R$ 600. O sonho de Adalberto, mesmo, é voltar a ser porteiro.

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Diabético e com perda parcial da visão, Armando Ferreira, de 49 anos, está há 3 afastado do trabalho de motorista de ônibus urbano, e recebe um benefício de R$ 1.300, equivalente a 70% de seu salário. Ele se queixa do serviço público de saúde. Sua mulher, de 48 anos, que trabalhava como servente numa creche, também se afastou há 2 anos, por causa de um transtorno psíquico, e recebe R$ 510. Ambos lutam para serem definitivamente aposentados, mas não conseguem. Para garantir o benefício, eles têm de voltar periodicamente ao médico para perícia. Às vezes não conseguem marcar consulta a tempo, e ficam até cinco meses sem receber o dinheiro.


Apesar desses problemas, sua avaliação do governo é "positiva". Graças às facilidades de crédito, Armando conseguiu trocar seu Escort 87 por um Clio 2008, em 60 prestações de R$ 700. "Hoje tenho computador e internet em casa, a R$ 35 por mês." Ele diz que votou em Lula em todas as eleições e não se arrependeu. "Só na área da saúde é que estão tapando muito o sol com a peneira." Por isso, pensa em votar em José Serra, ex-ministro da Saúde: "Na área de saúde ele até que foi bom, introduziu os genéricos. E Lula deixou muito a desejar."


"Lula se imortalizou, caiu nas graças do povo com o Bolsa-Família", elogia Adalberto. "Ele fez o pobre comer picanha. Depois de Getúlio Vargas, ele foi "o cara"." O pintor sentencia: "Em time que está ganhando não se mexe. Se Lula já plantou a mulher e o partido votou, você não vai arriscar a entregar para um partido que vendeu o País", completa, referindo-se à privatização sob o governo do PSDB.

Aparecido lembra que FHC teve o mérito de implementar o Plano Real. "Isso ninguém tira dele." Mas sempre votou em Lula. "Agora acho que a gente tem de manter o que está aí, que é a Dilma."


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