O Estado tem que se organizar para poder combater o crime organizado. Esse foi o tom do discurso dos juízes e promotores que se reuniram, nesta sexta-feira, em Curitiba, para discutir ações que possam inibir a atuação das organizações criminosas. As propostas farão parte do projeto batizado pelo governador Roberto Requião (PMDB) de ''Operação Mãos Limpas'', que está sendo elaborado pela Associação de Magistrados do Paraná (Amapar), promotora do encontro.
Para o presidente da Amapar, Roberto Portugal Bacellar, a falta de integração e de troca de informações entre as polícias Civil e Militar, Ministério Público e Justiça é um dos grandes entraves para o bom desempenho do trabalho de combate à criminalidade. Ele citou como exemplo a dificuldade da Justiça em localizar um réu que já está preso para prestar depoimento. Essa demora pode acabar obrigando o juiz a soltá-lo. ''Precisamos acabar com a idéia de que a polícia prende e o juiz solta, melhorando essa interrelação para que a criminalidade não se desenvolva'', declarou.
Como não há como ter certeza se os empecilhos ao trabalho da Justiça fazem ou não parte da estratégia do próprio crime organizado, juízes e promotores concordam que o primeiro passo para o Estado se organizar é combatendo a corrupção no meio policial. ''O ponto de vulnerabilidade do crime organizado é sua conexão com o poder público'', afirmou o juiz de direito do Juizado Especial Criminal, José Laurindo de Souza Neto. ''Hoje o crime organizado já não age mais com violência. Ele se infiltra para neutralizar as ações repressivas do Estado'', acrescentou.
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O combate aos policiais corruptos foi o foco da ''Operação Mãos Limpas'' realizada na Itália, da qual Souza Neto teve participação. As experiências ''boas'' do projeto italiano, segundo ele, podem e deverão ser aplicadas no Paraná. Uma das ressalvas, diz o juiz, é que não se cometam aqui os excessos que aconteceram na Itália. ''Temos que fazer valer a tutela do direito individual'', destacou.
As propostas do magistrado envolvem ainda a criação de um banco de dados com cadastro de antecedentes criminais integrado com o Santa Catarina e Rio Grande do Sul; adoção de medidas de restruturação ética dos órgãos de segurança e Justiça; e implantação de mecanismos de controle e transparência da atividade pública para que não haja espaço ao crime organizado.
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